Anualmente, uma análise crítica é realizada sobre as cultivares de milho disponíveis no mercado. Na safra de 2003/04, são listadas (Tabela 1) 233 cultivares de milho, portanto, 26 a mais do que na safra passada, sendo cinco de milhos especiais (três cultivares de milho pipoca, duas de milho doce e uma de milho ceroso). Cerca de 35 novas cultivares foram lançadas, substituindo nove que deixaram de ser comercializadas, demonstrando a dinâmica dos programas de melhoramento e a importância da semente no aumento da produtividade.
Esta publicação objetiva relacionar todas ou pelo menos a grande maioria das cultivares de milho existentes no mercado, fazendo uma análise crítica das características desse material genético. Utilizaram-se as informações existentes nos materiais de divulgação e promoção das empresas do ramo, como boletins e fôlderes das cultivares de milho distribuídos gratuitamente e informações obtidas diretamente das firmas produtoras de sementes. É provável que algumas cultivares não estejam mencionadas neste trabalho e que outras citadas já não estejam disponíveis no mercado. Entretanto, pela grande amostragem utilizada, as análises apresentadas refletem as características das cultivares comercializadas no País.
As cultivares que estão no comércio na safra 2003/04 e suas principais características e recomendações estão listadas nas Tabelas 1 e 2. Existem no mercado variedades e híbridos. Uma variedade de milho é um conjunto de plantas com características comuns, sendo um material geneticamente estável e que, por essa razão, com os devidos cuidados em sua multiplicação, pode ser reutilizada sem nenhuma perda de seu potencial produtivo. Quase toda a sua produção é realizada por órgãos públicos ou cooperativas e geralmente são comercializadas em regiões restritas ou utilizadas em programas sociais de distribuição de sementes. Vinte e oito variedades estão disponíveis para os agricultores, demonstrando que, embora ocorra uma predominância de híbridos simples e triplos, ainda existem, em todas as regiões do País, variedades que poderão ser mais apropriadas para sistemas de produção de menor custo e, principalmente, para a agricultura de subsistência.
Os híbridos existentes no mercado brasileiro podem ser assim definidos:
Híbrido Simples - obtido pelo cruzamento de duas linhagens endogâmicas. Em geral, é mais produtivo que os demais tipos de híbridos, apresentando grande uniformidade de plantas e espigas. A semente tem maior custo de produção, porque é produzida a partir de linhagens, que, por serem endógamas, apresentam menor produção.
Híbrido Simples Modificado - neste caso, é utilizado como progenitor feminino um híbrido entre duas progênies afins da mesma linhagem e, como progenitor masculino, uma outra linhagem.
Híbrido Triplo - é obtido do cruzamento de um híbrido simples com uma terceira linhagem.
Híbrido Triplo Modificado - O híbrido triplo pode também ser obtido sob forma de híbrido modificado, em que a terceira linhagem é substituída por um híbrido formado por duas progênies afins de uma mesma linhagem. Para esta safra está listado apenas um híbrido triplo modificado no mercado
Híbrido duplo - obtido pelo cruzamento de dois híbridos simples, envolvendo, portanto, quatro linhagens endogâmicas. É o tipo de híbrido mais utilizado no Brasil.
No passado, havia grande interesse das empresas produtoras de sementes em divulgar qual tipo de híbrido era uma determinada cultivar. Hoje, verifica-se que várias empresas produtoras de sementes não divulgam essa informação.
Verifica-se que 35,7% das cultivares são híbridos simples (modificados ou não) comparado com 34,82% listados na safra passada. A percentagem de híbridos triplos (modificados ou não) foi ligeiramente reduzida (31,34% na safra 2002/03 e 29,7% na safra 2003/04). Os híbridos duplos representam, hoje, 22,40% das opções de mercado, enquanto que, na safra 2002/03, eram 20,40% e, embora o número de variedades não tenha sido alterado em relação à última safra, em termos percentuais representam hoje 12% e, na safra anterior, 13,43%. Esses valores percentuais se referem ao número de cultivares disponíveis no mercado e não necessariamente à área plantada ou à quantidade de sementes vendida. Os híbridos simples e triplos, modificados ou não, representam, hoje, 65,5% (praticamente não diferindo da safra anterior - 66,16%) das opções para os produtores, mostrando uma tendência na agricultura brasileira e uma maior necessidade de se aprimorar os sistemas de produção utilizados, para melhor explorar o potencial genético dessas sementes. Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas em normais, semiprecoces, precoces e superprecoces.As cultivares normais apresentam exigências térmicas correspondentes a 890-1200 graus-dias (G.D.), as precoces, de 831 a 890, e as superprecoces, de 780 a 830 G.D. Essas exigências calóricas se referem ao comprimento das fases fenológicas compreendidas entre a emergência e o início da polinização. Dos materiais existentes, hoje, no mercado, 20,6% são classificados como superprecoces e suas exigências térmicas, de acordo com as informações da empresa produtora, variam de 762 a 860 G.D, portanto, dentro dos limites esperados. As cultivares classificadas como precoces representam 64,6% das opções e variam, quanto às suas exigências térmicas, de 703 a 945 G.D. As cultivares semiprecoces representam 12,5% das opções de mercado e variam de 840 a 978 G.D., enquanto as cultivares normais representam 2,1% do mercado e variam de 805 a 940 G.D. Percebe-se, desta forma, que as cultivares deverão ser melhor classificadas quanto ao seu ciclo.
Utilizando as informações sobre o ciclo da cultivar, independentemente de ser fornecida ou não sua exigência térmica, verifica-se que tanto as variedades quanto os diferentes tipos de híbridos apresentam todas as variações possíveis em seus ciclos. Entre as variedades, predominam as de ciclo precoce e semiprecoce (88,8%). Entre os híbridos duplos, predominam os de ciclo precoce, com 75% das opções. Entre os híbridos triplos, modificados ou não, 20% são superprecoces e 70% são precoces; entre os híbridos simples, modificados ou não, 28,9% são superprecoces e 56,6% são precoces. Algumas empresas produtoras de sementes fornecem informações sobre o ciclo da cultivar até a maturidade fisiológica e também até a colheita. Para muitas cultivares, é mencionada a taxa ou a velocidade de secagem (perda de água pelos grãos) após a maturidade fisiológica. Essa característica é definida pela expressão dry down.
Uma importante característica a ser observada ao se plantar uma cultivar é a densidade de plantio, que, quando inadequada, pode ser razão de insucesso da lavoura. A densidade de plantio ideal é função da cultivar, da disponibilidade hídrica e de nutrientes. Assim, qualquer fator que afetar a disponibilidade de água e nutrientes para o milho também afetará a escolha da densidade de plantio. Com relação à cultivar, a densidade poderá variar em função do porte, da arquitetura da planta, da resistência ao acamamento e ao quebramento e da finalidade a que se destina o plantio. Normalmente, cultivares mais precoces, de menor porte e mais eretas permitem o uso de densidades mais elevadas e espaçamento mais estreito. Verifica-se que as variedades são indicadas para plantios com densidades variando de 40.000 a 50.000 plantas por hectare, o que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistema de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de cultivar. Entre os híbridos, as densidade recomendadas variam de 40.000 a 80.000 plantas por hectare. As faixas de densidades mais freqüentemente recomendadas para os híbridos duplos variam de 45 a 55, havendo casos de recomendação até de 65 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é freqüente a densidade de 50 a 60 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha. Algumas empresas já estão recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e da época de plantio (cedo, normal, tardia e na safrinha). Com relação à altitude, algumas empresas dividem as regiões em abaixo e acima de 700 m, outras dividem em até 500 m, de 500 a 700 m e acima de 700 m. Além disso, já existem empresas recomendando a densidade em função do espaçamento, o que representa uma evolução. Dados de pesquisa mostram vantagens do espaçamento mais estreito e que, no espaçamento mais reduzido (45 a 50 cm entre fileiras), é possível aumentar a densidade de plantio de algumas cultivares em relação ao espaçamento convencional (80 a 90 cm). Com relação ao ciclo, comprova-se que, à medida que este se reduz, há uma tendência de aumento na densidade recomendada. Independentemente do tipo de cultivar, quando o material é recomendado para a produção de milho verde, a recomendação de densidade é menor, visando a obtenção de maior quantidade de espigas comerciais.
Um importante aspecto na escolha da cultivar é verificar sua adaptação à região onde a lavoura será instalada. Às vezes, a especificação da região de adaptação das cultivares é baseada nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul ou por estados. O mais comum nos materiais de divulgação, entretanto, é dar uma indicação de regiões geoclimáticas. Os limites dessas regiões variam um pouco, de acordo com cada empresa produtora de semente, e isto deve ser levado em conta pelos agricultores. Um importante fator na determinação dessas regiões geoclimáticas é a altitude. Outra importante informação é sobre a época de plantio mais indicada para cada cultivar. Algumas empresas especificam apenas o plantio de verão ou safra normal e a safrinha. Um maior número de empresas, entretanto, fornece maiores informações, separando o plantio CEDO, normalmente em agosto e setembro; NORMAL, em outubro e novembro, TARDIO, em dezembro e janeiro, e SAFRINHA, em fevereiro e março. Há casos de informações sobre a adaptação da cultivar ao plantio antecipado, que seria em junho e julho. Atenção especial deve ser dada ao milho safrinha, sistema em que o milho de sequeiro é cultivado fora da época normal, quase sempre após a colheita da soja precoce, e que já atingiu cerca de 2.600.000 hectares, desempenhando importante papel na produção de milho no País. Praticamente todas as cultivares recomendadas para a safrinha são também recomendadas para a safra normal, exceto um ou outro material recomendado apenas para a safrinha. O fato de uma empresa não indicar o plantio de determinada cultivar para a safrinha não significa necessariamente que ela não seja adaptada a esse sistema de produção. Outro aspecto importante no plantio do milho safrinha é o ajuste na densidade de plantio, sendo que algumas empresas já recomendam, em seus materiais de divulgação, a densidade a ser usada para o plantio da cultivar na safrinha. Como regra geral, a densidade é cerca de 20% menor do que a recomendada para a safra normal, principalmente devido à menor disponibilidade hídrica e aos maiores problemas de acamamento e quebramento nessa época de plantio. Geralmente, a densidade de 40.000 a 45.000 plantas por hectare é a mais freqüentemente recomendada.
Quanto ao fim a que se destinam, além da produção de grãos, há indicação de cultivares para a produção de silagem (de planta inteira ou de grãos úmidos) e para a produção de milho verde. No caso da silagem, é sabido que algumas cultivares apresentam melhor comportamento do que outras; entretanto, pelo número de cultivares indicadas para silagem (91), pode-se inferir que essa recomendação está generalizada, o que até certo ponto é compreensível, considerando a alta qualidade natural do milho como planta forrageira. À semelhança do que ocorre com o milho safrinha, a não recomendação da cultivar para silagem não implica necessariamente que o material não deva ser usado como tal. No caso do milho verde, também já existe um mercado específico, sendo que dez cultivares são recomendadas para essa finalidade. Também são listadas duas cultivares brancas para produção de canjica, duas cultivares com alto teor de óleo para a indústria de ração, três cultivares de milho pipoca, duas cultivar de milho doce e uma cultivar de milho ceroso.
Com relação à cor do grão, verifica-se que varia do branco ao avermelhado, sendo que há um predomínio do alaranjado (branco (4), creme (2), amarelo (30), amarelo/alaranjado (31), amarelo/laranja (4), alaranjado (90), laranja (40), laranja/avermelhado (4) e avermelhado (12)) .
Com relação à textura do grão, verifica-se uma predominância de grãos semiduros (43,1%) e duros (39%) no mercado, atendendo à expectativa da indústria, que valoriza mais esses materiais. Os grãos semidentados representam 11,8%, enquanto os materiais dentados são minoria (5,9%) e não são bem aceitos pela indústria. Grãos dentados são uma característica desejada e freqüente em materiais para produção de milho verde e silagem.
Também é apresentada a tolerância das cultivares ao acamamento e ao quebramento, o que é muito importante, principalmente em lavouras completamente mecanizadas.
Com relação à altura de plantas, verifica-se que, pela indicação das empresas de sementes, varia de 2,00 m ou um pouco menos até cerca 2,80 m. Obviamente essa altura também poderá ser afetada por condições ambientais. A altura de inserção da espiga varia de 0,70 a 1,50 m.
Também é muito importante o conhecimento do comportamento das cultivares com relação às doenças. Na Tabela 2, são apresentadas informações sobre o comportamento das cultivares com relação às principais doenças (fusariose, ferrugem comum - Puccinia sorghi, ferrugem branca - Physopella zea, ferrugem polisora - Puccinea polysora, pinta branca - Phaeosphaeria maydis, helmintosporiose-Helminthosporium turcicum, Helminthosporium maydis, enfezamento ou corn stunt, cercosporiose e doenças do colmo e dos grãos. Outras doenças são relatadas, porém de forma esporádica e, no futuro, espera-se que maiores informações sejam apresentadas sobre o comportamento das cultivares com relação às doenças.
São também apresentados, na Tabela 1, os níveis de tecnologia recomendados para cada cultivar, de acordo com a indicação de cultivo e disponibilidade de sementes das cultivares de milho habilitadas no Zoneamento Agrícola - Ano 2003/04. Embora se possa imaginar que essa classificação seja subjetiva e possa variar entre as empresas, verifica-se que 34,14% das cultivares são recomendadas para nível de tecnologia alto e médio/alto e alto; 53,27% das cultivares são recomendadas para nível tecnológico variando de médio, médio e médio/alto e médio/alto;12,14% são recomendadas para nível tecnológico baixo/médio e baixo/médio e médio. Dentre os tipos de cultivar, verifica-se que os híbridos simples, modificados ou não, e os híbridos triplos são mais recomendados para tecnologia média/alta e alta. Os híbridos duplos são mais recomendados para tecnologia média e média/alta e as variedades, para tecnologia baixa/média e média.
As características discutidas até aqui são aquelas mais comuns nos materiais de divulgação das diferentes empresas de sementes. Outras características são também mencionadas, como potencial produtivo, estabilidade de produção, as proporções das diversas partes da planta, percentagem de proteína bruta, FDA, FDN, lignina, NDT, matéria seca na colheita, potencial de produção de matéria seca, velocidade de emergência, qualidade do colmo ou resistência ao acamamento de colmo e de raiz, perda do teor de água do grão (dry down), empalhamento, prolificidade, peso de 1.000 grãos, densidade (g/l), características da espiga, colmos e folhas, staygreen (característica da planta de permanecer verde mesmo quando a espiga já se encontra em adiantado estádio de maturação) e tolerância a algum herbicida. Todas essas características auxiliam os agricultores na escolha da cultivar.
Consultar tabelas de Cultivares