10/10/2012 10:06:02
A semeadura do milho começou em agosto no Rio Grande do Sul, mas muitas lavouras precisaram ser semeadas novamente, em função da falta de umidade para a germinação das sementes e das intempéries dos últimos dias. A concentração da semeadura deve acontecer agora, principalmente com o aumento das precipitações no Estado, e se estender até meados de outubro. A previsão de chuva no verão traz boas perspectivas para a safra que está começando.
Em 2011, a área cultivada com milho no Brasil foi de 13,36 milhões de hectares, distribuídos no PR (18%), MT (14%), MG (8,8%) e RS (8,2%). A cultura do milho tem significativa importância socioeconômica no RS, historicamente ocupando 28% do total das áreas semeadas com cultivos de primavera-verão, especialmente em pequenas propriedades de agricultura familiar (Conab).
Contudo, nesta safra há perspectiva de redução da área de milho, que deverá ceder lugar para a soja em função da alta cotação da oleaginosa, o que preocupa os pesquisadores que têm mostrado as vantagens do milho na rotação de culturas e sua posição estratégica nos sistemas de produção da Região Sul.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Pires, existem várias razões para semear milho: rotação de culturas com a soja, reduzindo a incidência de pragas e doenças; fornecimento de grande quantidade de palha para o sistema plantio direto; consumo próprio na pequena propriedade associado a cadeias produtivas animais (especialmente suínos e aves); ciclagem de nutrientes e contribuição na redução da erosão devido a sua relação C/N (carbono e nitrogênio) elevada que garante a permanência de palha na superfície do solo por mais tempo.
Em trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS e em Guarapuava, PR, foi verificado o efeito benéfico da rotação com milho para o rendimento de grãos da soja. Nesses dois locais e em vários experimentos de longa duração, o cultivo de soja por um, dois ou três anos consecutivos intercalando com o milho, apresentou rendimento de grãos mais elevado do que a monocultura dessa leguminosa. Por meio da alternância de culturas com o milho, também é possível controlar pragas, como, por exemplo, o tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), uma praga importante da cultura que não ataca gramíneas.
Semeadura antecipada
O zoneamento agrícola que orienta a semeadura do milho no RS é amplo, iniciando em agosto até a semeadura mais tardia em janeiro. Contudo, a época de maior expressão do potencial de rendimento dos híbridos vai da segunda quinzena de setembro à primeira quinzena de outubro. Neste período o pré-florescimento e o enchimento de grãos coincidem com a radiação solar mais alta e dias mais longos (entre meados de novembro a fevereiro), favorecendo o desenvolvimento da planta e o potencial de rendimento da lavoura.
Para evitar que o florescimento ocorra justamente nos períodos de maior probabilidade de ocorrência de deficiência hídrica, muitos produtores têm antecipado a semeadura, com algumas lavouras semeadas ainda no mês de julho. Segundo a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Jane Machado, a prática se justifica em duas ocasiões: quando há risco iminente de déficit hídrico, principalmente com o florescimento em dezembro e o enchimento de grãos em janeiro e fevereiro, que são as fases mais críticas da cultura; e quando existe um bom planejamento para manejo do solo evitando que fique descoberto na entressafra. Em anos de previsão de chuvas na primavera-verão, a semeadura antecipada pode não expressar o potencial de rendimento de grãos que os híbridos poderiam atingir. “A temperatura noturna abaixo dos 15ºC reduz o desenvolvimento do milho, da mesma forma que a radiação solar também é menor, podendo alongar o ciclo da cultivar. Assim, o florescimento mais cedo nem sempre vai resultar em secagem mais cedo. Ainda, para tirar o milho cedo da lavoura, o produtor tem optado por cultivares superprecoces, que nem sempre são as mais produtivas”, esclarece a pesquisadora. A antecipação de semeadura também pode expor a cultura ao risco de geadas, que podem prejudicar o crescimento e até mesmo causar a perda da lavoura. A situação foi verificada nesta safra que iniciou com geadas no mês de setembro, comprometendo lavouras semeadas mais cedo.
Cultivar
Atualmente, existem 479 cultivares de milho no mercado, onde 263 são convencionais e 216 são transgênicas. No RS, cerca de 80% dos cultivos são com milho transgênico.
As cultivares de milho indicadas para o RS podem apresentar ciclo superprecoce, precoce ou normal. A maior diferença de ciclo entre elas ocorre no período da emergência ao florescimento e da maturação fisiológica à colheita. Para a semeadura na primavera podem ser utilizadas cultivares com ciclo precoce que vão garantir cobertura do solo com palha até o estabelecimento dos cultivos de inverno. “Cultivares muito precoces aproveitam menos tempo de luz e calor, que são fontes de nutrientes para enchimento de grãos”, alerta a pesquisadora Jane Machado, da Embrapa Milho e Sorgo, lembrando que quando o solo fica descoberto de janeiro (colheita do milho do cedo) até maio/junho (primeiras semeaduras de inverno) acaba mais suscetível às intempéries climáticas e, portanto, sujeito à degradação e ao desenvolvimento de plantas daninhas.
Enfim, a escolha da cultivar deve considerar fatores como época de semeadura, diferenças regionais de clima e solo, histórico da incidência de pragas e doenças, culturas antecessoras e sucessoras ao milho, e prognósticos climáticos para o período. “O que o produtor fez na lavoura no ano passado pode não funcionar neste ano. Não existe receita pronta para o estabelecimento de uma lavoura, é preciso planejar cada ano pensando em uma nova lavoura dentro de um sistema de produção a longo prazo”, conclui a pesquisadora.
Multimídia:
Confira a entrevista com a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Jane Machado, sobre “Semeadura do milho no RS” no link http://www.cnpt.embrapa.br/campo_alerta/index.htm.
Joseani M. Antunes MTb 9693/RS
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Fonte: CenárioMT.com.br, 9 de outubro