26/4/2008 07:37:48
São Paulo/Porto Alegre (Reuters) - Agricultores e exportadores vão tentar convencer o governo que as medidas restritivas à exportação de arroz distorcem o mercado, prejudicam o setor privado e abrem um precedente perigoso que gera temores de que no futuro outros produtos de exportação possam ser alvos de ações semelhantes.
Na quarta-feira, o governo brasileiro anunciou que estão proibidas as exportações de arroz dos estoques públicos, para garantir a oferta local do produto e manter os preços sob controle.
Além disso, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, vai tentar um acordo com produtores para que eles deixem de realizar vendas externas do grão, cuja colheita ainda está sendo realizada.
"(A proibição das exportações de estoques privados) não vai acontecer. Seria uma guerra", disse o diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Rubens Silveira.
O Brasil está colhendo uma safra estimada em 11,9 milhões de toneladas de arroz, contra 11,3 milhões da temporada anterior. Cerca de 80 por cento da safra já foi colhida, e o ministério quer evitar as exportações, apesar da maior oferta atual, para que não venha a ocorrer uma escassez na entressafra.
Os estoques públicos estão estimados em 1,6 milhão de toneladas. O governo deverá realizar leilões periódicos de suas reservas para regulagem de preços no mercado interno, e o setor privado afirmou que não aceitará medidas que derrubem os preços.
As cotações do arroz no mercado internacional atingiram valores recordes recentemente, e muitos países como Índia e Vietnã, temendo uma escassez interna, impuseram medidas restritivas às exportações.
"O governo está monitorando e sinalizando para todos os agentes que não vai deixar (o mercado) solto com o que está acontecendo no resto do mundo. Aceitamos discutir medidas que esfriem o mercado, mas não derrubem os preços", completou Silveira.
Os produtores enxergam a subida de preços no mercado internacional como oportunidade para melhores negócios. Silveira disse que o setor tem como meta a exportação de 10 por cento da safra gaúcha, medida que garantiria ganhos ao produtor e ajudaria a sustentar o preço do produto.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, com colheita estimada em 7,14 milhões de toneladas neste ano.
PRECEDENTE PERIGOSO
Silveira descarta o risco de desabastecimento do mercado doméstico, assim como o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que também criticou a decisão do governo.
"Em tese, toda intervenção dessa natureza distorce o mercado e prejudica os produtores", afirmou Rodrigues a jornalistas, antes de participar de seminário em São Paulo.
Já o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, afirmou que o setor ficou preocupado que uma medida semelhante venha a ser tomada em relação às vendas externas de milho do Brasil, produto que também está fortemente demandado internacionalmente, um mercado em que o Brasil está se firmando como exportador.
No entanto, Mendes disse ter garantias de que o governo não vai anunciar medida semelhante para o milho. "Isso acarretaria em um tremendo prejuízo às exportações", disse ele.
O ministro da Agricultura, por outro lado, afirmou em entrevista à GloboNews que vai monitorar, além das exportações de arroz, o ritmo das vendas externas de milho, cujo excedente exportável, se a segunda safra se confirmar, deverá ser de mais de 10 milhões de toneladas - o país consome 44 milhões ao ano.
"Vamos rastrear isso quase que dia a dia, estamos fazendo isso em relação ao arroz e outros produtos que nos preocupam, o trigo, o milho, embora tenhamos um excedente razoável (de milho)."
Segundo o ministro, o governo pretende entrar em acordo com o setor privado, para que o arroz produzido neste ano não seja exportado.
"Se o nosso produtor atender à demanda internacional nós vamos ter problemas internos na frente, e vamos ter que importar arroz. Então temos de ter uma espécie de acordo de cavalheiros. E além de não exportar nada dos estoques do governo, nós temos de ter uma espécie de entendimento para que eles evitem de exportar."
Caso não haja acordo, Stephanes admitiu medidas mais rigorosas. "Não pretendemos adotar medidas tributárias ou de barreiras... agora o que nós desejamos é atender ao abastecimento interno. E se eventualmente tivermos de adotar medidas mais rigorosas, é claro que elas serão adotadas", acrescentou o ministro.
Fonte: O Globo, 24 de abril