31/05/2019 11:29:13
Rubens Augusto de Miranda
Pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
Nas últimas semanas, os mercados mundiais têm se mostrado apreensivos frente às dificuldades para o plantio das principais culturas agrícolas, nos Estados Unidos, para a safra 2019/20. O problema decorre, simplesmente, das chuvas que não cessam, dificultando, ou mesmo inviabilizando, a semeadura de culturas como o milho e a soja.
No início de maio, as projeções da safra de milho americana apontavam para números próximos ao recorde de 2016/17, quando foram colhidas 384,8 milhões de toneladas naquele país. Contudo, após um mês de muita chuva, o panorama mudou completamente. O solo encharcado no decorrer do mês resultou no maior atraso de plantio das lavouras de milho nos EUA nas últimas quatro décadas. Um estudo recente de pesquisadores da Universidade de Illinois indicou que o percentual médio de plantio tardio¹ de milho no país foi de 17,7% nos últimos 40 anos; enquanto que, na atual safra, o atraso está em torno de 49%, o maior computado no período.
Plantios tardios podem não apenas impactar negativamente a produtividade da lavoura, mas também levar a opção de não realizar a semeadura, ao se perder a data final de plantio indicado pelo seguro agrícola, que varia entre culturas e regiões. Segundo o levantamento das lavouras realizado pelo Serviço Nacional de Estatística Agrícola (NASS), nos EUA, os maiores atrasos do plantio de milho nesta safra se encontram na região Leste do cinturão do milho, que abrange alguns dos principais estados produtores do país.
No levantamento de 26 de maio de 2019, o percentual de plantio realizado em Illinois, Indiana e Ohio foi, respectivamente, de 35%, 22% e 22%. Na mesma época do ano anterior (2018) esse percentual foi próximo de 100% para esses estados. Esses três estados plantaram juntos 8 milhões de hectares de milho na safra 2018/19 (relativo a 47,7% na área plantada com milho no Brasil na respectiva safra). Assim, em relação à safra anterior, faltaria plantar 5,7 milhões de hectares. A data final de plantio estabelecida pelo seguro agrícola para o milho nessa região é de 5 de junho, o que ainda pode permitir uma certa margem de mudança neste quadro, apesar de as previsões climáticas não serem promissoras.
A despeito do maior percentual de progresso do plantio dos estados na região Oeste do cinturão do milho devido à data final de plantio mais cedo, 25 e 31 de maio, há áreas onde o milho não foi semeado e que já estão fora da janela exigida pelo seguro agrícola. Tomando por base a safra passada, no dia 26 de maio ainda faltava plantar 15,15 milhões de hectares, o que corresponde a 90% da área plantada com milho no Brasil em 2018/19. Tal situação já reflete consideravelmente nos preços domésticos do milho. Somente no mês de maio, entre os dias 10 e 28, a cotação saltou de US$ 3,51 para US$ 4,20 por bushel, representando um aumento de 19,5% em menos de 3 semanas.
Embora qualquer projeção sobre a área plantada final e a produtividade na safra de milho 2019-2020 nos EUA ainda envolva um alto grau de incerteza, há cenários projetados nos quais as perdas ultrapassariam as 50 milhões de toneladas. Caso essas piores previsões se confirmem, a cotação do milho no mercado norte-americano poderá chegar a US$ 5,00 o bushel, ressaltando que a cotação média entre 2014 e 2018 foi de US$ 3,77.
Em relação ao Brasil, devido ao bom tempo, a Conab projeta uma safrinha recorde de 69 milhões de toneladas, superior àquela colhida em 2017. Esse resultado, somado aos 26 milhões de toneladas de milho colhidas na primeira safra, resultará numa produção total superior a 95 milhões de toneladas em 2018/19. Caso tais projeções se confirmem, a safra brasileira será de um valor muito próximo as 97,8 milhões de toneladas de milho colhidas em 2016/17 (nas estimativas da Conab), atual recorde de produção do país.
A garantia de negócios internacionais devido às dificuldades da safra norte-americana, dado que os EUA é o maior exportador do grão, deverá possibilitar a negociação do milho brasileiro em boas condições. Bons preços associados a uma alta disponibilidade de produto (no caso o milho) são a combinação perfeita para a obtenção de lucros. Neste caso, tudo indica que o excesso de chuvas neste momento nos EUA poderá ser a chave para uma safra excelente para o produtor brasileiro de milho em 2019.
¹Considerou-se o dia 30 maio como data limite a partir do qual o plantio foi considerado tardio no período de 1980-1985. No período de 1986-2019 a data limite considerada foi 20 de maio.