29/7/2008 08:03:21
São Paulo - A queda das cotações do milho no mercado internacional e a valorização do real em relação ao dólar podem limitar a expansão das exportações brasileiras do cereal neste ano e, por conseqüência, impedir altas expressivas nos preços do insumo no mercado interno. A avaliação feita por criadores de aves, suínos e indústria é de que as cotações do cereal estão longe de ceder ao nível do preço mínimo de garantia estabelecido pelo governo, hoje de R$ 16,50 a saca no Sul e Sudeste, mas não devem repetir o nível do segundo semestre do ano passado, quando ultrapassaram R$ 34 a saca na região de Campinas (SP).
Hoje, na mesma praça, o preço é de R$ 27 a saca, com tendência de queda pela oferta crescente da segunda safra de milho. A recuperação da safra americana, por causa das condições climáticas favoráveis, tem pressionado o mercado futuro do grão. Só em julho, o contrato do cereal com vencimento em dezembro caiu quase 20% na Bolsa de Chicago. O dólar, com desvalorização de 1,6% no mês e 11% no ano em relação ao real, tem oscilado ao redor de R$ 1,60, e no curto prazo não se espera mudanças significativas neste cenário. O abastecimento de milho não será problema neste ano, prevê Clóvis Puperi, diretor-executivo da União Brasileira de Avicultura (UBA). Segundo ele, os estoques do grão no final da safra devem ser maiores que no ciclo anterior.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção brasileira de milho em 57,4 milhões de toneladas e o consumo em 44 milhões de toneladas. A projeção para os estoques finais é de 9,1 milhões de toneladas, 38% maior que o estocado no ciclo anterior. “Isso nos dá tranqüilidade”, diz Puperi. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Milho (Abimilho), Nelson Kowalski, ressalta que, mesmo com a quebra de produção no Paraná, por causa da geadas, a segunda safra de milho deve resultar em 16 milhões de toneladas. “Para o consumo, é um volume confortável”, diz. A colheita da safrinha atinge nesta semana aproximadamente 20% da área plantada.
Para outro segmento da cadeia, o de suínos, a queda das exportações de milho em junho sinaliza para um mercado mais abastecido no segundo semestre. Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), acredita que com a menor demanda externa pelo produto brasileiro haverá maior disponibilidade no mercado interno. O Brasil exportou em junho 364,3 mil toneladas de milho, volume 47% menor que o embarcado em maio. De janeiro a junho, as exportações somam 2,930 milhões de toneladas, volume 8% menor que as 3,176 milhões de toneladas embarcadas no primeiro semestre de 2007.
Paridade
A paridade exportação será a referência para os preços internos, segundo Puperi, da União Brasileira de Avicultura (UBA). “O vendedor prioriza o que lhe é conveniente. Hoje é o mercado interno”, diz o executivo da UBA. “Mas se sobe o milho sobe o frango”, destaca. A ração equivale a 70% do custo na produção de frango, e o milho, de 65% a 70% do custo da ração.
Segundo Puperi, a alta de preços do milho em abril e maio, quando a safra ainda não estava definida, levou o setor a recomendar a redução do número de animais para abate no plantel. Hoje não há mais receio e a expectativa do setor é fechar 2008 com uma produção de 11 milhões de toneladas de carne de frango, um aumento de 7,5% sobre 2007. Para o setor de suínos, a alta do preço do milho foi compensada com o aumento dos preços da carne. Segundo Wolmir de Souza, mesmo na época de entressafra - novembro e dezembro - os preços do milho em Santa Catarina devem ficar abaixo dos R$ 30 a saca. Segundo ele, a alta que assustou o setor no primeiro semestre - e que resultou em preços de até R$ 32 a saca no Estado - se deveu “à especulação com a qualidade da safra americana”, o que já não é mais uma preocupação. No Mato Grosso, a valorização do suíno também compensa eventuais reajustes no preço do milho. Segundo a Associação dos Criadores de Suínos do Mato Grosso (Acrismat), enquanto os preços do milho subiram 35% no Estado de julho de 2007 até agora, os preços dos suínos registram alta de 112%. “A relação de troca de milho pela carne melhorou bastante”, diz Luiz Antônio Ortolan Salles. Ainda assim, ele recomenda aos produtores que “antecipem ao máximo a compra de milho no período de safrinha”, a fim de se precaverem da redução da oferta nos próximos meses.
Fonte: Tribuna do Norte, 27 de julho