Arroz e feijão vão garantir expansão da safra 2008/09
8/9/2008 09:50:33



A produção brasileira de grãos deverá atingir 144,6 milhões de toneladas na safra 2008/09, volume apenas 2% superior ao verificado na temporada passada. Pelas projeções da Safras & Mercado, a área cultivada no Brasil deverá crescer 1%.

O diferencial desta safra é o aumento do cultivo dos "primos pobres" - culturas que tradicionalmente são plantadas em propriedades menores - como o arroz e o feijão.

O grande perdedor é o algodão, seguido pelo milho. Os custos de produção mais altos, por um lado, e os preços de mercado é que estão determinando esta mudança no perfil da safra.

"Vamos ter 'de lamber' os dedos por esse aumento porque não está fácil a coisa", diz Flávio França Júnior, diretor da Safras & Mercado, referindo-se ao pequeno aumento na área plantada geral. Isso porque, segundo ele, desde o final de julho as condições de preços para o plantio pioraram.

Aliado a isso, de acordo com a análise da consultoria, os custos de produção subiram, em média, entre 20% a 25%. França Júnior acrescenta também a taxa cambial e a limitação de crédito privado, no caso da soja.

Levantamento da Céleres mostra que até o momento 13% da produção estimada (de 63 milhões de toneladas) foi comercializada antecipadamente e a modalidade mais usada foi a troca de insumo por produto. A empresa projeta um aumento superior ao esperado pela Safras & Mercado. Enquanto uma consultoria estima acréscimo de 2% na produção, a outra espera 7%.

França Júnior diz que o aumento da área de soja virá de duas culturas: milho e algodão. "Mas a transferência não será proporcional", afirma. Por outro lado, de acordo com o consultor, neste ano não está ocorrendo a perda da área da pecuária para a agricultura, uma vez que a rentabilidade tanto no leite quanto no gado de corte está mais alta.

Entre as grandes culturas, a maior queda ocorre no algodão - área 9% menor - seguida pelo milho, que terá diminuição de 5% no cultivo de verão. "O milho perde para a soja e o feijão, principalmente em estados de pequena propriedade, como os do Sul, afirma França Júnior. Ele ressalta que as duas lavouras - de milho e algodão - são as que demandam o maior uso de insumos, elevando o custo de produção.

O levantamento da Céleres também mostra recuou no plantio de milho, mas inferior ao registrado pela Safras & Mercado: 3,3%. Para a consultoria, a oferta de crédito é um dos fatores, uma vez que o custo de produção da soja é menor. "No caso do milho, a aposta de novo vai ser da safrinha", acredita França Júnior.

A vez dos pequenos

Menos importantes na balança comercial, mas fundamentais nos pratos dos brasileiros, o arroz e o feijão serão os produtos com maior incremento na área cultivada. De acordo com o levantamento da Safras & Mercado, o primeiro plantio de feijão aumentará 11%, enquanto o de arroz crescerá 6%.

Para França Júnior, o Plano Agrícola e Pecuário pode ter um pouco de influência nas culturas básicas, uma vez que o governo anunciou que queria incentivá-las e, para isso, aumentou o preço mínimo. No entanto, segundo ele, foi o mercado o fator mais determinante.

Foi a possibilidade de um lucro equivalente ao valor despendido na lavoura que levou o agricultor Tarcísio Cereta, de Sobradinho (RS) a aumentar a área plantada com feijão em 30%.

A semeadura começa nesta semana para que dê tempo de, depois, cultivar também soja safrinha. Cereta diz que espera gastar R$ 1,48 mil por hectare e obter um lucro de R$ 1,5 mil por hectare, a se produtividade média se mantiver - 30 sacas por hectare - e os preços continuarem remuneradores. Em sua região, segundo ele, a cotação média do feijão preto é de R$ 130 a saca.

O analista Rafael Poerchke, diz que o Plano de Safra foi um mecanismo de segurança ao produtor, mas os preços também estavam muito atrativos.

Pelos dados da consultoria, atualmente, os valores cobrados pelo feijão carioquinha são quase 90% superiores aos praticados no mesmo período do ano passado: R$ 195 a saca, enquanto os do feijão preto são 102% maiores: R$ 154 a saca.

O analista lembra, no entanto, que o aumento na área pode se refletir, depois, em uma pressão nas cotações do produto. Por outro lado, no caso do arroz, a valorização média é de 35% em relação ao mesmo período do ano passado, com o grão a R$ 33 a saca.

Fonte: Circuito Mato Grosso, 5 de setembro