"Infelizmente a crise já afetou o plantio dessa próxima safra"
27/10/2008 09:40:27



Desde que a crise financeira norte-americana começou a se disseminar pelas economias mundiais, o sinal de alerta foi acionado principalmente para que medidas preventivas fossem realizadas pelos Bancos Centrais, como a quê o Brasil adotou recentemente ao injetar R$ 100 bilhões de compulsório junto às instituições bancárias . Mas e em relação ao agronegócio, quais são os possíveis impactos previstos e, propriamente, quais seriam os efeitos mais imediatos sobre a agricultura do Centro-Oeste, sobretudo em relação à produção de grãos no Mato Grosso?

Conforme destaca o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (IMEA), órgão ligado a Famato, Seneri Paludo, o principal reflexo do setor é em relação a redução de créditos rurais.

No Estado de Mato Grosso, por exemplo, ele explica que devido a esse encolhimento de concessão de crédito ao produtor que já vinha acontecendo até mesmo antes da crise - a próxima safra - passou a ficar comprometida. Seneri revela que para o plantio das três principais culturas (soja, algodão e milho) para a próxima safra serão necessários investimentos em torno de R$ 12,2 bilhões.

"Infelizmente a crise já afetou o plantio dessa próxima safra. Entre as primeiras providências que considero importante para abrandar os efeitos da crise é reduzir o capital a ser investido nas tecnologias. Conseqüentemente, isso refletirá em menor produtividade e menor produção".

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, entre outras medidas de se tentar amenizar a atual situação do produtor é conseguir o prolongamento do seu endividamento. Prado, defende inclusive, que o governo federal disponibilize uma linha de crédito que atenda o produtor rural sem que ele necessite passar pelas agências financeiras, que têm sido um entrave para o setor.

SAFRA 2009 - Conforme analisa o superintendente do Imea, o ano de 2009 será atípico dos outros anos e deverá apresentar um pouco mais de dificuldade. Ele destaca que superar as restrições ao acesso ao crédito rural, o alto custo da produção e o número elevado de endividamento estão entre os principais desafios para o próximo ano. Isso sem contar que o produtor terá que torcer por um fator climático positivo para que tudo corra relativamente bem. "Para o milho e o algodão, o cenário ainda é pior, estima-se que estas duas culturas devam sofrer redução de área de 20% e 19% respectivamente".

PECUÁRIA - Segundo o consultor em pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Luiz Carlos Meister, em princípio a crise financeira global não acarretará em maiores impactos ao setor. Meister atribui o fato a alguns aspectos, como: a necessidade de bois para abate em curto prazo; a ausência de carne bovina em quase todos os continentes e o consumo interno em torno de 80% da produção nacional. "Estamos concentrando nossas exportações para a Europa que por todos esses impactos econômicos poderá ter uma redução do consumo da carne. No ano passado, por exemplo, conseguimos exportar um volume significativo e isso nos deu uma importante abertura e credibilidade para expandirmos a comercialização para outros mercados como é o caso dos países do Oriente Médio".

Em relação à indústria frigorífica, na opinião do consultor de pecuária do IMEA, Otávio Celidônio, os frigoríficos que já não estavam em situações favoráveis devido à baixa oferta de gado, devem enfrentar novas dificuldades pela frente. Ele diz que o pior momento vivido pelos frigoríficos em 2008 foi em julho, quando o preço da carcaça era 83% mais cara que o preço médio de um boi gordo vivo (considerando 52% de rendimento de carcaça).

"No mês passado (setembro) esse diferencial foi de 92%, três pontos percentuais acima da média do ano que foi de 89%. Nas duas últimas semanas de outubro, a carne no atacado subiu e o spread foi para 104%, maior valor do ano, indicando que a demanda ainda está aquecida".

EXPORTAÇÕES - Conforme o superintendente do Imea, Seneri Paludo, mesmo com toda essa turbulência ocasionada pela crise norte-americana, as exportações do agronegócio nacional não deverão ser afetadas em curto prazo.

"Há apenas uma preocupação do setor mensurada em médio prazo e longo prazo. Só se a crise econômica continuar persistindo e se espalhando, somente neste caso, podemos ter uma redução do consumo e, conseqüentemente, uma redução significativa na exportação. Mas o ponto principal de tudo isso é o reflexo que se terá pela liberação de crédito. Porque, sem crédito rural ficará difícil produzir e atender inclusive, a demanda do mercado interno".

Fonte: O Estadão Matogrossense, 21 de outubro

 

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