12/11/2008 10:26:37
Os reflexos da escassez de recursos e os menores preços pagos pelo milho já devem ser notados na safra de verão pela indústria de sementes. Até meados deste ano, o setor esperava superar a safra do ano passado em volume de vendas, mas o agravamento do cenário com a restrição ao crédito e a maior oferta da commodity no mercado interno fez o setor rever as metas e projetar uma redução de 5% até o final do plantio. Dados da Associação Paulista dos Produtores de Sementes (Apps) mostram que, até setembro deste ano, cerca de 4,17 milhões de sacos de sementes foram vendidos, número 2,2% inferior ao período anterior. No ano passado, em torno de 6,75 milhões de sacos de semente de milho foram comercializadas na safra de verão. A expectativa é que esses produtores migrem para a soja, que oferece menores custos com sementes e adubação das lavouras, além de oferecer boa liquidez no momento da venda.
A consultoria Céleres estima redução um pouco mais intensa na demanda de sementes do milho (6%), o que confere uma queda de 400 mil hectares na área total da primeira safra, recuando de 9,6 milhões de hectares para 9,2 milhões de hectares (-4%). "O segundo semestre deve terminar com estoques elevados porque a safrinha foi maior que o previsto. Com isso, a soja oferece renda mais interessante ao produtor com menores custos de produção", avalia Leonardo Sologuren, diretor da consultoria.
O cenário fica ainda mais incerto para a safra de inverno do milho (conhecida como safrinha), segundo Cássio Cruz Camargo, secretário-executivo da Apps. Ele diz que ainda não é possível mensurar a redução de área ou demanda, mas o nível tecnológico empregado com certeza será menor. "Esperávamos um cenário positivo para o verão e a safrinha. Mas a crise acabou mu-dando o panorama", observa. Elton Ramer, presidente da Associação dos Produtores de Semente do Mato Grosso (Aprosmat), revela que os produtores têm dificuldades para acessar o crédito, o que prejudica o andamento da colheita. "Na safra de verão já esperamos redução na demanda, pois os produtore migraram para soja. A maior incógnita fica para o inverno. Se ocorrer uma redução na área e na demanda de semente de milho acima de 60% não será novidade alguma".
Iwao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Mudas e Sementes (Abrasem), confirma a maior demanda por sementes de soja. Segundo disse, as vendas devem crescer 10% neste ano. Em 2007, foram comercializadas 15 milhões de sacas de 40 quilos. "A crise que abalou o milho não deve prejudicar na mesma intensidade a soja", explica. Ele lembra que o custo da saca de semente da oleaginosa favorece o movimento, pois custa cerca de R$ 40, enquanto a do milho fica acima dos R$ 100.
No Rio Grande do Sul, os produtores estão cancelando as compras de sementes de milho para adquirir a de soja. Narciso Barison Neto, presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), afirma que a demanda pela soja está 10% superior à do ano passado. "A queda do milho deve ficar nessa mesma proporção". No estado, a área deve cair 200 mil hectares e ficar em 1,4 milhões de hectares, conforme previsão da associação.
O plantio de milho primeira safra no Paraná já atingiu a mais de 90% da área programada, segundo levantamento do Departamento de Economia Rural ( Deral), da Secretaria de Agricultura do estado. A primeira safra do Paraná tem área estimada em 1,303 milhão de hectares, o que é 5,3% inferior à de 1,376 milhão de hectares plantados em 2007/08. Já a produção segue estimada em 9,2 milhões de toneladas, volume 9,4% inferior à de 9,725 milhões de toneladas da última temporada, se as condições de safra forem normais. A queda é explicada pelo Deral pela necessidade de uso de intenso de fertilizantes na cultura, cujos preços aumentaram em mais de 50% em poucos meses, mas essa queda pode ser compensada na safrinha conforme a evolução dos preços o mercado. Segundo informações da Safras & Mercado, o plantio da safra 2008/09 no Centro-Sul atinge 57% do total, estimado em 5,8 milhões de hectares.
O movimento de recuo na produção pode favorecer os preços do milho no próximo ano. O grão, que baixou 52% após um auge sem precedentes, poderá tornar a registrar preços recorde no próximo ano devido à crescente demanda para seu uso em combustível, disse David Dawe, economista da Divisão de Economia Agrícola e Desenvolvimento da Organização para a Agricultora e a Alimentação das Nações Unidas (FAO). "Possivelmente veremos uma certa queda na produção", disse na entrevista em Yokohama, Japão. "Por outro lado, há um crescimento sustentável na demanda por biocombustíveis."
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"É possível que os investidores, no momento preocupados com a força do dólar e a crise do mercado financeiro, voltem a se concentrar no milho no ano próximo", disse por telefone Kenji Kobayashi, analista da Kanetsu Asset Management de Tóquio.
Fonte: Agrolink, 12 de novembro