21/8/2009 15:15:18
A soja será a rainha absoluta da safra de verão 2009/10. Levantamento feito pelo Valor com base nas vendas de fertilizantes, defensivos e sementes mostra que a oleaginosa vai avançar sobre a área de milho e de algodão, uma vez que seus preços estão mais atraentes no mercado internacional. A expectativa é de colheita recorde. O estímulo também ocorre por conta do espaço deixado pela quebra da safra de grãos da Argentina.
O avanço da soja sobre o milho se dará em grande parte no Sul do país e também no Centro-Oeste, segundo analistas ouvidos pelo Valor. "Vou migrar boa parte da minha área de milho para soja", diz o agricultor paranaense Milton Munhoz, de Campo Mourão. Na safra 2008/09, Munhoz destinou 92 hectares para milho. Neste ciclo, o milho deverá ocupar apenas 25 hectares. Para a soja, Munhoz vai utilizar área de 423 hectares; na safra passada, foram 356 hectares. "Perdi dinheiro com o milho."
O plantio de grãos começa em setembro no Sul do país. Para a soja, a expectativa é de que a colheita até supere 64 milhões de toneladas, de acordo com Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado. A consultoria AgraFNP, por sua vez, estima uma produção de 61,9 milhões de toneladas, com uma área de 22,1 milhões de hectares. A colheita na safra 2008/09 ficou em 57,1 milhões de toneladas.
"O milho tem se sustentado no mercado somente com suporte do governo, com os leilões", disse Pedro Colussi, analista de grãos da AgraFNP. "Os estoques de milho até o final do ano ficarão em 11 milhões de toneladas, cerca de 25% da produção total na última safra [de 44 milhões de toneladas]", afirmou.
Até o momento, a previsão mais comedida para a soja foi feita pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Na última quarta-feira, o USDA reiterou sua projeção de produção de 60 milhões de toneladas no Brasil. Embora reduzido em relação a outros prognósticos, esse volume igualaria o recorde da produção de soja no país, ocorrido na temporada 2007/08.
A produção de milho está estimada em 51,1 milhões de toneladas (incluindo a safrinha). A expectativa é de que as lavouras da safra de verão ocupem 8,61 milhões hectares em 2009/10, uma queda de 6,7% em comparação com a temporada 2008/09, segundo a AgraFNP. Dos 620 mil hectares que deixarão de ser plantados, 410 mil serão reduzidos no Sul do país. No caso do milho, a recuperação da produtividade deverá mais do que compensar a queda na área.
Os custos de produção de soja por saca no Paraná estão em R$ 22 e, em Mato Grosso, R$ 23. "A saca está sendo vendida a R$ 34, o que dá uma boa rentabilidade se comparada com a do milho", disse Colussi. Os custos da saca de milho estão em R$ 13, para vendas a R$ 17.
Com custos altos, o algodão, que teve recuo de área de 21% em 2008/09, voltará ceder espaço novamente para soja em 2009/10. A expectativa é de que a área registre queda de 5%, ocupando cerca de 805 mil hectares, segundo a Safras.
"A procura por sementes certificadas aumentou muito em relação aos últimos anos. Isso significa que os produtores estão dispostos em investir em tecnologia nas lavouras", afirmou Ywao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Cerca de 50% das sementes para o plantio de grãos da próxima safra já foram vendidas - no mesmo período do ano passado, esse número era de 30%. "Cerca de 60% do total foi para a soja", afirmou.
As vendas de fertilizantes não deverão ter grandes alterações no acumulado do ano civil. A expectativa do setor é de que as vendas fiquem entre 22 milhões e 23 milhões de toneladas. Mas, segundo Eduardo Daher, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a soja será a bola da vez este ano. As vendas de fertilizantes fosfatados e potássicos estão mais acentuadas, o que significa que boa parte destes produtos está direcionada para a oleaginosa. Em julho, as vendas de adubos totalizaram 2,463 milhões de toneladas, alta de 0,5% em relação a julho de 2008.
O mercado de defensivos projeta redução de faturamento neste ano em virtude da queda dos preços, mas as vendas não devem recuar. É esperado um consumo idêntico ao de 2008, com possibilidade de uma pequena alta. No ano passado, as vendas atingiram o volume recorde de 673,9 mil toneladas, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).
A soja, que já encabeça as vendas de agrotóxicos, deve ampliar sua relevância. "Milho e algodão vão perder área, mas a soja vai compensar a diminuição nessas outras culturas", diz Ivan Sampaio, gerente de informações do Sindag. Em 2008, a soja foi responsável por 45% das vendas de defensivos no país. "Esse número pode ser ainda maior neste ano", afirma Sampaio.
No auge da crise financeira, temia-se fortemente pelos desdobramentos que as intempéries econômicas teriam sobre o plantio da safra 2009/10 de grãos. Até este momento, contudo, estão atestadas vendas mais aceleradas de sementes e há possibilidade até de aumento no consumo de defensivos e fertilizantes.
Esse cenário desenrola-se sob perspectivas de clima menos traumático para as lavouras. Um El Niño (fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico equatorial) ameno deve, nos próximos três meses, trazer chuvas dentro da média para o Sul do país. É possível que as chuvas fiquem um pouco acima da média em algumas regiões, mas não com severidade, já que se trata de um El Niño ameno, segundo Mozar de Araújo Salvador, meteorologista da coordenação geral de desenvolvimento e pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mato Grosso do Sul e o Sul do país foram castigados por uma forte seca no fim de 2008, que ocasionou perdas expressivas nas lavouras.
Fonte: Notícias Agrícolas, 14 de agosto