14/9/2009 14:00:34
O Brasil deverá terminar 2009 com cerca de 5 milhões de t de milho nos estoques públicos, cinco vezes mais do que o governo tinha há um ano. Mas apesar do reforço na sua política de apoio ao cereal, que prevê para este ano gastos de R$ 1,4 bilhão, o governo vem obtendo pouco sucesso em elevar os preços, que seguem abaixo dos custos de produção em várias praças do País.
"O governo está fazendo o que tem que fazer, mas a conjuntura internacional tem um reflexo muito grande nos preços", explicou o superintendente de Operações Comerciais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), João Paulo Moraes Filho, em entrevista à Reuters.
O milho na bolsa de Chicago, referência internacional para grãos, está cotado atualmente a menos da metade do pico do ano passado, na expectativa de uma grande safra americana neste ano.
"A crise provocou uma redução grande nos mercados internacionais, com reflexo aqui dentro", acrescentou Moraes, lembrando que, em 2008, os preços externos em patamares recordes influenciaram positivamente o mercado brasileiro, e a estatal não necessitou realizar tantas operações de apoio ao produtor.
O volume de 5 milhões de t que deve se acumular nos armazéns públicos representa cerca de metade dos estoques finais (incluindo os privados) previstos para o País em 2009, segundo a própria Conab.
Com um real apreciado frente ao dólar, as exportações brasileiras estão lentas, o que também colabora para a abundância de milho no mercado interno e para a fraqueza nos preços, o que deve se refletir negativamente no plantio que se inicia neste mês para a temporada 2009/10, dizem especialistas.
Os estoques de milho públicos estão atualmente em 2,8 milhões de t, mas com as aquisições previstas pelo governo, dos contratos de opções que vencem em setembro, o volume deve subir para 5 milhões de t, segundo o superintendente da Conab.
Os preços do milho, em várias praças de comercialização do Brasil, estão abaixo ou próximos do valor mínimo de garantia estabelecido pelo governo, um patamar que indica quando as cotações ficam inferiores aos custos de produção.
Em Mato Grosso, por exemplo, onde a segunda safra de milho em 08/09 foi das melhores já registradas, uma saca de 60 kg de milho vale R$ 7, contra um preço mínimo de R$ 13,20 - o preço mínimo é utilizado pelo governo para realizar as compras públicas.
Além do milho, a Conab também tem reforçado sua política de apoio ao trigo e ao algodão, com gastos para as duas commodities de quase R$ 1 bilhão previstos para 2009, sem falar do café, cujo apoio à comercialização ganhou vida neste ano.
No ano passado, para todos os produtos, a Conab calcula ter gasto cerca de um terço do que deve investir este ano no apoio à comercialização.
Se o Brasil não é um grande player internacional no mercado do milho, consumindo internamente boa parte de sua produção, busca influenciar o preço do café com a retomada de uma política que remonta quase 20 anos.
Depois de ter realizado leilões de contratos de opção para 3 milhões de sacas, sem sucesso de ter elevado os preços externos, o Ministério da Agricultura anunciou que realizará compras diretas de café no mercado do maior produtor e exportador mundial.
O governo afirmou na quarta-feira que dispõe de R$ 300 milhões para tais compras, o que seria suficiente para a aquisição de mais de 1 milhão de sacas.
"O governo não faz compras diretas desde a extinção do antigo IBC (órgão do governo que interferia no mercado), desde 1991", afirmou Moraes, acrescentando ainda não ter recebido orientações do ministério para realizar a operação.
Só com café, o Brasil deve gastar mais R$ 300 milhões com as opções que vencem em novembro e outros R$ 662 milhões com as que expiram no ano que vem. Esses gastos podem aumentar se o governo cumprir sua promessa de acumular 10 milhões de sacas até o ano que vem, um ano eleitoral.
Fonte: Terra, 10 de setembro