4/2/2010 15:34:54
Pressionados pelos elevados estoques nacionais, os produtores brasileiros de milho assistem, sem alternativa, a queda da cotação interna e externa do grão. No Mato Grosso foi registrada nesta semana a menor cotação do País: R$ 6,60 por saca. Em Campinas, onde foi registrada a maior cotação, o preço da saca chegou a R$ 19,06.
Na tentativa de amenizar os prejuízos, houve redução de quase um milhão de hectares na área plantada no Brasil. Apesar da ação, estimativas apontam que a produção deve ultrapassar o volume da safra passada, impulsionada, principalmente, pelo clima favorável ao plantio e o desenvolvimento vegetativo das lavouras.
Jacqueline Bierhals, gerente de Agroenergia da Consultoria AgraFNP, revela que a safra 2009/10 começou com mais de 11 milhões de toneladas de milho estocados, quando o desejável seria 3 milhões. “O setor precisa de apoio na questão do escoamento do produto estocado. Esse excesso é justificado, na maioria das vezes, pelo péssimo planejamento da área plantada e também pelo clima favorável”, afirma.
De acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a área destinada ao milho na primeira safra (2009/10) foi 10,7% menor se comparada com a área cultivada na primeira safra 2008/2009. Apesar da redução, uma pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostrou que a produtividade deve compensar parcialmente a diminuição. Até o momento, o clima foi favorável, o que deve elevar a produtividade média nacional em 5,5% - a previsão é que seja de 3.906 quilos por hectares, 7,6% maior do que a alcançada na safra anterior. A produção esperada é de 32, 3 milhões de toneladas.
“Apesar da redução em quase um milhão de hectares na área plantada, indicadores apontam que a produção nacional será ainda maior que a alcançada na safra anterior”, afirma Jacqueline.
Sem mudanças
Steve Cachia, analista de commodities da corretora de cereais Cerealpar, revela que a situação do mercado brasileiro de milho tende a continuar complicada em curto prazo, pelo menos para o produtor. Segundo ele, a produção recorde dos Estados Unidos – que colheu 334 milhões de toneladas de milho agora em janeiro, ante as 328 milhões de toneladas de dezembro – ; a atual taxa de câmbio, que torna o produto brasileiro menos competitivo no mercado internacional; e as incertezas econômicas do mercado mundial, também devem ser apontados como corresponsáveis pelo cenário.
“O fato é que o Brasil precisa exportar para desovar os estoques elevados. No ano passado foi difícil e sem os programas do governo não teríamos conseguido exportar as 7 milhões de toneladas. Provavelmente, este ano, será a mesma história”, setencia Cachia.
Na opinião do analista, reduzir a produção é uma alternativa para ser levada em consideração. “A conjuntura do mercado pode mudar de uma hora para outra. O produtor deve prestar a máxima atenção aos custos e não hesitar em momentos de reação no mercado, que sempre há. Para o milho, o momento não é de especulação, mas sim de aproveitar a louca margem de lucro quando ela aparece”, conclui.
Na última segunda-feira (25), a saca do milho foi cotada em Mato Grosso a R$ 6,60, a menor registrada no País. Em Campinas (SP) o valor chegou a R$ 19,06 por saca. “O ideal é que a venda girasse em torno de R$ 23,00 por saca. Por isso a necessidade dos leilões realizados pelo governo. Apesar de pagarem de R$ 1,00 a R$ 1,50 a mais por saca, quando há venda de lotes grandes, o produtor consegue tirar a corda do pescoço”, afirma Jacqueline.
Brasil exporta 14% do que produz
No ano passado, das 51,2 milhões de toneladas de milho produzidas no Brasil, 7 milhões foram destinados à exportação, ou 14%, de acordo com Jacqueline. Apesar dos números expressivos, o País é o terceiro maior exportador do grão no mundo, ficando atrás dos Estados Unidos e da Argentina.
Fonte: Juliana Franco / Campo News
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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