23/2/2010 09:38:15
Depois de comemorar a chegada à reta final de uma safra de milho de alta produtividade, agora é a hora de o produtor pressionar o mercado em busca de valorização. A recomendação do agrônomo da Emater Dulphe Pinheiro Machado Neto é reter o grão, à espera de reação nos preços. Ele avalia que isso ainda não ocorre porque o agricultor precisa de dinheiro para honrar compromissos. O valor da saca, que alcançou cotação de R$ 15,16 na semana passada, abaixo do mínimo de R$ 17,46, não cobre o custo de produção, de R$ 19,40. "Quem puder deve colher o máximo agora, estocar e secar antes que comece a colheita da soja, e ficar no aguardo de um preço melhor", avalia Neto.
De acordo com o economista da Fecoagro Tarcísio Minetto, o custo de produção caiu 13% em relação à safra passada, mas o valor da saca teve recuo de mais de 20%. "Esse quadro é complicado porque o produtor fica sem saída." O presidente da Abramilho, João Carlos Werlang, observa que o preço mínimo não está garantido nem para o grão convencional, nem para o transgênico. Nesta safra, as sementes geneticamente modificadas representam 40% da colheita brasileira. No ano passado, a participação foi de 5%.
Conforme a Emater, nos vales do Rio Pardo e do Taquari, onde as enxurradas da virada do ano comprometeram o rendimento, produtores precisaram replantar o grão e alguns não conseguiram porque passou a época recomendada pelo zoneamento. Apesar da quebra localizada, a previsão é que a oferta seja maior do que a demanda, já que o fenômeno climático El Niño foi benéfico para a safra gaúcha. O volume de chuvas deve garantir uma produtividade ainda maior do que os 3.997 quilos por hectare projetados inicialmente. "Seguramente teremos mais do que as 4,2 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Poderemos superar a marca de 5 milhões, em função da ótima evolução da cultura", observa Neto. Atualmente, 71% das lavouras estão prontas e 25% delas, colhidas.
Cenário positivo para suínos e aves
Apesar de o cenário difícil para os produtores de milho, os criadores de suínos e aves estão confiantes na redução dos custos e no abastecimento do grão para ração. O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), Rogério Kerber, avalia que o resultado é bom para o setor. Ele lembra que, em 2009, foi necessário comprar milho de outros estados e importar do Paraguai devido ao impacto da estiagem na lavoura.
O presidente da Asgav, Luiz Fernando Ross, diz que a expectativa não poderia ser melhor, mas observa que o Estado ainda não é autossuficiente. O problema, segundo Kerber, pode surgir se não for encontrado o ponto de equilíbrio entre produção e remuneração dos agricultores. Segundo o agrônomo da Emater Dulphe Pinheiro Machado Neto, os setores envolvidos devem se preocupar com a sustentabilidade da lavoura. "O reflexo pode ser negativo na intenção de plantio para 2011, com queda de área." Nesta safra, o recuo foi de 8%, que ficou em 1,28 milhão de hectares.
Fonte: Correio do Povo
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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