18/3/2010 08:46:46
Estimativas do governo apontam que Santa Catarina caminha para a segunda maior safra de grãos da sua história este ano. A produção somada de milho, soja, arroz, feijão e trigo deve alcançar 6,4 milhões de toneladas em 2010. O resultado fica atrás somente da safra de 2008, quando foram colhidas 6,5 milhões de toneladas.
Se a principal cultura catarinense, o milho, superar as expectativas de 3,5 milhões de toneladas e chegar a 4 milhões, como imagina o chefe do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa) da Epagri, Airton Spies, será, de fato, a maior safra da história catarinense.
Mesmo perdendo área cultivada — de 667 mil hectares em 2008 para 590 mil em 2009, diferença de 11,6% —, a produtividade do cereal será a maior de todos os tempos. Deve chegar a 5.950 kg/hectare, 21,6% a mais que os 4.895 kg/hectare do ano passado.
— Melhoraram as tecnologias, mas o fator fundamental foi a ausência de estiagens — explica.
O fenômeno El Niño deu sua contribuição. O aquecimento de 1,5 grau Celsiu das águas do Pacífico na costa do Peru, faz com que o Centro Sul do Brasil receba grandes volumes de chuva.
Spies observa que o El Niño prova a importância da água na produção agrícola. Mais de 80% das perdas de grãos se deve ao estresse hídrico, ou seja, falta d'água. Nos últimos sete anos, houve estiagem em cinco safras.
Armazenar a água em açudes, tanques ou reservatórios para depois irrigar as lavouras em tempo seco é a condição imprescindível para a sustentabilidade da agricultura familiar, segundo o chefe do centro.
— Mesmo em anos com estiagem, tivemos índice de chuva próximo ao da média histórica. Não está em questão se a seca vai ocorrer, mas sim quando e como estaremos preparados para ela — avisa Spies.
A safra cheia não garante bolso cheio ao produtor. A oferta maior de grãos em todo o Brasil associada à falta de armazenagem, que força a entrada do produto no mercado, derruba preços ao produtor. Os preços da soja e do milho tendem a cair no mercado internacional.
A Argentina, forte concorrente do Brasil, também foi beneficiada pelo clima, com chuva e sol na medida certa. Além disso, a moeda argentina está mais desvalorizada que o real, o que torna os preços argentinos mais competitivos.
No Brasil, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirma que a safra 2009/2010 será a maior da história do país, com 144,1 milhões de toneladas. O volume supera 7% o total de grãos da safra passada.
Santa Catarina é o segundo produtor nacional de arroz irrigado, mas deve superar o líder Rio Grande do Sul em produtividade. Rodigheri lembra que o estado vizinho teve problemas e por isso será menos produtivo.
A safra catarinense de arroz cresceu 3,7%, de 1.039 para 1.077 toneladas, puxada pelo aumento da produtividade, de 6.950 kg/hectare para 7.200 kg/hectare (3,6% a mais). Rodigheri destaca que a safra de arroz varia menos que a de milho. De 2003 para hoje, entre a pior e a melhor safra o arroz oscilou apenas 11%, enquanto o milho oscilou 58%.
Soja terá colheita recorde
As colheitadeiras do Oeste de Santa Catarina já começaram a colher a provável maior safra do Estado, segundo estimativas dos órgãos ligados ao setor.
Um dos motivos é que a área plantada da oleaginosa avançou 14%, atingindo 994 mil hectares, segundo dados do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri. Outro motivo é que a frequência de chuva no desenvolvimento das plantas deve provocar um aumento de produtividade.
Com isso a estimativa de produção é de 1,2 milhão de toneladas, 24% a mais do que no ano passado.
— Vai ser a maior safra de soja do Estado e do país — diz o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc).
Ele estima superar 1,1 milhão de toneladas em Santa Catarina e 66 milhões no Brasil. Barbieri afirma que há lavouras em Xanxerê colhendo até 75 sacas por hectare, quando normalmente uma boa lavoura rende 60 sacas por hectare.
O diretor da Faesc afirma que, tanto no milho quanto na soja, os agricultores que investiram em tecnologia foram premiados. Mas a falta de chuva nos últimos 20 dias pode reduzir um pouco as estimativas iniciais.
Segundo Barbieri, as lavouras plantadas mais tarde podem ter perdas de até 10%, mas em cima de uma produtividade acima da média.
O gerente da unidade da Cooperativa Regional Alfa (Cooperalfa) de Guatambu, Otacílio Camatti, explica que a falta de chuva acelerou a maturação de algumas lavouras, o que adiantou a colheita entre oito e 10 dias.
Isso prejudicou o enchimento dos grãos, reduzindo a produtividade por hectare. Ele esperava receber inicialmente 52 mil sacas na sua unidade. Mas agora já faz projeções de receber apenas 42 mil. Uma redução de quase 20%.
Camatti diz que visitou propriedades que estão colhendo bem, em torno de 55 sacas por hectare, mas há notícias de algumas que colheram apenas 35 sacas por hectare. O agricultor Ivan Zeni, de Guatambu, está colhendo em média 57 a 58 sacas por hectare.
Ele já colheu 38 dos 90 hectares plantados. A produtividade é similar à do ano passado, mas 5 a 8% a menos do que ele previa este ano. Zeni considera que a safra até está boa, mas o preço bem pior.
No ano passado ele recebeu R$ 48 por saca. Agora o preço está R$ 32.
— Se contar todas as despesas não sobra nada — afirma.
A previsão da Faesc é de preços ainda menores, já que a produção mundial está prevista em 265 milhões de toneladas, contra 220 milhões do ano passado.
Fonte: Diário Catarinense
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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