27/8/2010 14:19:06
O fraco desempenho do trigo nas últimas safras tem levado agricultores do sudoeste do Estado de São Paulo a buscar no sorgo, lavoura não tradicional, uma alternativa para o plantio de inverno. O sorgo safrinha cobria, na semana passada, 2.800 hectares na região de Itapeva, a 280 quilômetros da capital. É a primeira vez que se planta sorgo nessa escala na região no período de entressafra. Tradicionalmente, nesta época, as terras são cultivadas com trigo.
O preço baixo e as doenças das duas safras anteriores levaram muitos produtores a reduzirem a área ou deixar de plantar o trigo este ano, optando pelo sorgo. A outra opção, o milho safrinha, tem custo maior de produção e também estava, na época do plantio, com o preço muito baixo.
Muitas áreas plantadas com sorgo já foram colhidas e tiveram produtividade recorde, apesar do inverno quase sem chuvas. Alguns produtores chegaram a colher mais de 100 sacas por hectare.
Substituição. De acordo com o engenheiro agrônomo Vandir Daniel da Silva, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado em Itapeva, o sorgo granífero substitui parcialmente o milho na composição de rações, mas é uma cultura mais rústica e barata.
O custo de produção fica entre 40% e 50% do que se gasta com o milho, mas o preço de venda atinge 80%.
"Nesta semana o comprador está pagando R$ 18 pela saca de 60 quilos do milho e até R$ 14 pela do sorgo", informa Silva. O mercado é garantido: as granjas de suínos da região disputam o produto.
Biocombustível. O sorgo também se presta à produção de biodiesel e etanol, segundo o agrônomo. A planta, que se assemelha ao milho, produz boa quantidade de palha para o sistema de plantio direto e rotação de culturas. Na região, os agricultores pretendem plantar soja sobre a palhada, no chamado plantio de verão.
"Como a região não tinha sorgo na safrinha, será uma experiência nova", diz o agrônomo.
O produtor Nelson Schreinner, um dos que aderiram à novidade, conseguiu fazer a lavoura a um custo 50% menor que o milho safrinha. Ele plantou 240 hectares de sorgo conseguiu produtividade média de 100 sacas de 60 quilos por hectare em cultivo de sequeiro - sem irrigação. Uma das três variedades plantadas chegou a render 115 sacas por hectare, um recorde.
De acordo com o agricultor, o milho é mais produtivo - dá até 160 sacas por hectare -, mas envolve risco maior por ser uma cultura cara.
Cultivo arriscado. "O cultivo de inverno é sempre mais arriscado", diz, experiente. Ele lembra que o sorgo deve ser plantado até meados de fevereiro para evitar possíveis geadas na fase de formação dos grãos. Schreinner conta que, há cinco anos, plantou sorgo e teve dificuldade para vender a produção.
Este ano, tentou novamente, mas no inverno, em áreas normalmente ocupadas pelo trigo, e vendeu a produção com facilidade.
"O consumo aumentou, pois as granjas de suínos e fábricas de ração passaram a ver vantagens nesse grão. Criou-se um mercado e a demanda é boa." Ele pretende manter o plantio no próximo inverno.
O produtor João Euclides Ribeiro, de Itaberá, plantou o sorgo no início de março e começa a colher esta semana. Ele usa a produção para alimentar a criação de suínos, sobretudo as matrizes que produzem leitão. O produto é misturado ao farelo de trigo e outros componentes da ração. Em São Paulo, o sorgo já é uma cultura importante para a produção de ração animal, mas é cultivada principalmente no verão e pós-verão.
Na região oeste do Estado, onde a ocorrência de geadas é menor, a cultura também é feita no inverno. No ano passado, o Estado cultivou 41.300 hectares, com produção de 1,9 milhão de sacas.
Preço do trigo está reagindo
O preço do trigo reagiu nas últimas semanas, mas ainda não trouxe otimismo para os produtores do interior de São Paulo, desestimulados após duas safras frustradas. No ano passado, o excesso de chuvas causou grandes perdas - em média, 50% da produção. Na safra anterior, a produção foi afetada pela seca e os agricultores ainda foram obrigados a vender a preços baixos. Este ano, muitos triticultores optaram por outras culturas ou deram descanso para a terra. No Estado, a área plantada, de 58.300 hectares em 2009, caiu cerca de 30% este ano, decréscimo percebido desde 2008, quando se plantaram 79.100 hectares, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta).
Área em queda. Na região de Itapeva, uma das principais produtoras do cereal, o cultivo caiu de 40 mil hectares em 2009 para 34 mil este ano. Os triticultores que mantiveram as lavouras acompanhavam com expectativa a cotação do trigo. Na semana passada, início da colheita, a tonelada estava em R$ 500.
O produtor Frederico D’Avilla, da Fazenda Jequitibá do Alto, em Buri, plantou 280 hectares. Na safra passada ele havia cultivado 540 hectares e teve prejuízo de R$ 900 por hectare. "Além de reduzir a área pela metade, diminuí a quantidade de adubo e usei semente mais barata." Mesmo assim, o custo de produção foi de R$ 460 por hectare. Como o clima ajudou, ele previa uma produção de até 60 sacas por hectare. "O preço precisaria subir muito para recuperar o prejuízo das últimas safras", diz.
Apesar de também ter contabilizado grande prejuízo na safra passada, o agricultor Nelson Schreinner plantou 800 hectares este ano e espera ser favorecido pelo que chamou de "conjuntura inesperada".
Ele se referia à estiagem que atingiu Rússia, Canadá e Austrália. Ele diz que, em 2009, teve de vender para fábricas de ração o trigo que pegou chuva na colheita. "Perdi quase a lavoura toda." Este ano, as chuvas vieram na hora certa. A colheita já foi iniciada e ele deve colher 55 sacas por hectare.
Fonte: José Maria Tomazela / ITAPEVA / Estadão
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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