20/10/2010 13:57:18
Mudam os presidentes, mas os problemas continuam os mesmos. Pelo menos nos EUA. Pelo menos, ainda, para a produção animal, principalmente avicultura e suinocultura.
Como mostrou ontem clipping do AviSite, com o protesto dos grandes consumidores de milho norte-americanos, o Presidente Obama, prosseguindo na mesma política de seu antecessor, autorizou a elevação da mistura do etanol de milho à gasolina, o que – segundo previsões do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) – vai fazer com que 37% da atual produção do grão seja destinada à produção do etanol.
Em outras palavras, mais de um terço do que antes era quase só comida (para a indústria animal, mas também para a indústria de alimentos humanos) está sendo desviada para a fabricação de um biocombustivel. Daí a grita, por exemplo, da avicultura e da suinocultura que, com isso, perdem gradativamente sua competitividade.
Ao analisarem-se números do próprio USDA, é possível constatar que as perdas da produção não são nada pequenas. Assim, comparando-se resultados de 2005 com aqueles previstos para 2011, verifica-se que enquanto a produção de milho tende a crescer pouco mais de 7%, o consumo de “outros setores” (nos quais a indústria do etanol está inserida) deve crescer mais de 126%. E, claro, isso implica na redução da disponibilidade para outros usuários – neste caso, a indústria de ração animal, cujo consumo de milho em 2011 deve ser 12% menor que o registrado em 2005.
Naturalmente, nessa redução está envolvida a melhora da conversão alimentar dos animais em criação e a utilização de outras matérias-primas alimentares. Mas implica, também, em estagnação da produção, já que a evolução da conversão alimentar e a substituição do milho por outros grãos têm seus limites.
Outro indicador da perda de participação do setor de rações no consumo de milho dos EUA é obtido a partir da análise da destinação segmentada do grão (fabricação de ração + outros usos + exportação + estoque final). Em 2005, as rações absorveram praticamente a metade (48,2%) do total distribuído entre esses quatro segmentos, enquanto 21% foram destinados a “outros usos” (as exportações ficaram com 14,2% e o estoque final com 16,5%.
Já o previsto para 2011 é uma redução da participação das rações para 37,5% (queda de 22%), enquanto dobra o índice de absorção para “outros usos” (etanol, claro). Cai, também, a participação das exportações (menos de 14%) e dos estoques finais – neste caso, apenas 6,3% do total representado pelos quatro segmentos o que, em termos físicos, corresponde a um estoque final de milho quase 60% menor que o registrado em 2005.
Em síntese, tudo indica que a indústria norte-americana continuará enfrentando dificuldades para produzir alimentos de origem animal a custos acessíveis para o consumidor interno e externo. Isso abre novas oportunidades para países concorrentes (como o Brasil) que, entretanto, precisam adotar políticas mais eficientes - para o milho, mas também para a produção animal.
Fonte: AviSite
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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