20/4/2011 10:22:15
Um grupo de seis agricultores do polo de assentamento Zaqueu Machado, em Capixaba, localizado a 74 quilômetros de Rio Branco, cansou de ser pequeno e tomou uma audaciosa decisão de aumentar a capacidade de produção. Arrendou uma área de 50 hectares na BR- 317, plantou milho em 20 e deve colher, já nesses dias, cerca de 3,6 mil sacas do grão.
A colheita se iniciou na segunda-feira, 4. Naquele dia, as primeiras oito toneladas de milho foram levadas para secagem e armazenagem na sede da Companhia de Armazéns Gerais do Acre (Cageacre), na cidade de Senador Guiomard. Na quarta-feira, 6, mais nove toneladas tiveram o mesmo destino.
Terminada a colheita do milho, o grupo se prepara para plantar feijão - agora em uma área de 150 hectares - e, em seguida, reiniciar o processo de plantio de milho.
A terra arrendada fica no quilômetro 100 da BR-317. O local já era considerado terra degradada, ou seja, onde não mais havia produção e também já não servia mais para a criação de gado. “Era uma área de capoeira alta totalmente improdutiva”, disse o secretário de Agricultura e Pecuária, Mauro Ribeiro. Junto com o chefe do Departamento de Modernização Agrícola da Secretaria de Agricultura e Pecuária (Seap), Roger Daniel Recco, Mauro Ribeiro visitou os produtores e acompanhou um pouco o processo de colheita.
Recco explicou que os agricultores não só conseguiram ampliar a área plantada, mas, principalmente, maior produtividade por hectare. Isso foi possível graças ao uso da mecanização, do processo de preparo da terra e da escolha de sementes mais adaptadas à região acreana.
“Antes, a produção por hectare era de 25 a 30 sacas de milho. Agora eles produzem cerca de 90 sacas por hectare. Isso no primeiro ano de produção. Nos anos seguintes, a produtividade deve aumentar ainda mais, já que a correção do solo se dará de forma mais natural e mais eficaz”, ressaltou Recco.
Outro ponto destacado é que os agricultores diversificam a produção. Na área arrendada, será feito o plantio de milho e feijão e nas propriedades do Zaqueu Machado, o plantio de diversas outras culturas, como a macaxeira, hortaliças, milho e feijão.
Mauro Ribeiro e Roger Recco afirmam que a ousadia do grupo de agricultores do Zaqueu Machado se tornou um exemplo para os demais da região de Capixaba. Tanto que já há outros grupos com o mesmo interesse.
O dilema da expansão da produção
Mauro Ribeiro e Roger Recco explicaram que os agricultores do Zaqueu Machado procuraram apoio do governo do Estado para ampliar a produção e aumentar a lucratividade. O problema é que eles viviam um grande dilema: como ampliar a produção se dispunham apenas de 15 hectares de terra cada um?.
“Além de a área de terra de que dispunham ser pequena, eles ainda tinham que respeitar os limites legais para o desmate”, contou Ribeiro. “Constatamos que era impossível ampliar a produção ali no Zaqueu Machado”, completou Roger Recco. A solução foi encontrar outra área de terra para plantio.
“Foi uma decisão ousada. Pouca gente acreditou que era possível, mas hoje esses produtores mostram que é possível sonhar grande e transformar o sonho em realidade”, elogiou Mauro Ribeiro.
Planejamento é a chave do sucesso
A ideia de arrendar a terra para ampliar a produção teve início em meados de 2010. O grupo iniciou com dez pessoas, mas terminou reduzido a seis - dois homens e quatro mulheres -, todos oriundos do Zaqueu Machado. Com a ajuda do governo, eles financiaram um trator com os acessórios para o plantio do milho.
“Tudo foi feito com muito planejamento. Nos dedicamos ao máximo em levantar custos de tudo e procurar saber como realizaríamos cada etapa do plantio e da colheita”, contou o presidente da Associação de Produtores do Zaqueu Machado e líder do grupo de agricultores, Antônio Bezerra. Ele relatou que o passo seguinte foi encontrar uma área adequada que fosse próxima de suas propriedades. “Nós encontramos essa terra e fizemos um acordo com o proprietário. Acertamos que daríamos 10% de tudo que produzíssemos. Ele aceitou e nos liberou 50 hectares, mas só conseguimos plantar em 30 porque não havia tempo para preparar toda a área”, resumiu.
Bezerra disse que foram investidos pouco mais de R$ 46 mil na área. Esse dinheiro foi aplicado na preparação da terra, com a destoca, correção de solo, compra de sementes e plantio.
O arrecadado com a venda da produção será investido na preparação para o plantio de milho, dessa vez em uma área bem maior. O dinheiro também será usado para o pagamento de dívidas dos produtores, entre elas a parcela do trator e da colheitadeira. O trator custou R$ 90 mil e a colheitadeira, pouco mais de R$ 20 mil. As parcelas, de R$ 27 mil, são pagas uma vez ao ano. O governo do Estado também ajudou a custear a destoca e agora contribui para a colheita. “Esse é um trabalho de parceria e estamos muito felizes pelo apoio que vimos recebendo do governo do Estado”, disse Antônio Bezerra.
A organização e o planejamento são tanto que o grupo resolveu acampar na área da colheita. “Eles fizeram um cálculo de quanto ia custar sair da área de colheita para ir almoçar ou mesmo comprar água em Capixaba. Botaram tudo na ponta do lápis e descobriram que seria mais barato e mais eficiente se montassem um acampamento no local da colheita”, explicou Mauro Ribeiro.
No acampamento, foi montada uma cozinha onde é feita a refeição de todos. A comida é feita por todos e custeada por todos. “Fazemos comida em fartura e de muito bom gosto, pois quem trabalha tem que comer bem”, garantiu Maria Helena, que acabara de preparar o feijão.
Motivados, agricultores querem ir mais longe
Os seis agricultores estão na região arrendada desde que a colheita iniciou. Eles acompanham o trabalho da colheitadeira, ajudam a carregar os caminhões, acompanham a entrega no armazém da Cageacre e estão presentes em todos os passos do processo. A empolgação está visível no rosto de cada um. “Agora está dando certo. Nós estamos conseguindo mais do que esperávamos e vamos conseguir mais ainda”, disse Maria Pinheiro de Souza, uma das produtoras do grupo. De acordo com ela, o grupo pretende crescer mais ainda, arrendando mais terra e tornando mais eficiente o processo de plantio e colheita. “Demoramos a pegar a experiência, mas agora é só melhorar que vamos conseguir bem mais”, afirmou a agricultora.
Maria contou que sua maior alegria foi ver o primeiro caminhão sair carregado de milho para a armazenagem. “Depois que eu vi o caminhão sair, fiquei animada, pois sei que o nosso sonho está se tornando realidade”, disse emocionada, a agricultora.
Produção e respeito ao meio ambiente
Os agricultores do Zaqueu Machado estão provando que é possível aumentar a produção de grãos no Acre sem precisar derrubar a floresta. A área utilizada por eles está sendo recuperada para a agricultura. “Eles estão deixando para trás uma tecnologia ultrapassada para uma bem mais moderna, que lhes garante a recuperação do solo e uma produção bem maior por hectare em uma área considerada improdutiva”, explicou Roger Recco.
Roger explica que o governo do Estado tem incentivado esse tipo de iniciativa, pois reconhece aí uma forma economicamente viável e sustentável para o aumento da produção acreana. Segundo ele, há cerca de 400 mil hectares de terras degraddaas no Acre. “Imagine o quanto é possível aumentar a produção de grãos no Estado se ao menos a metade disso tudo for recuperada. Imagine também quanto de emprego e renda poderemos gerar no campo”, pontuou Mauro Ribeiro.
Fonte: Agência de Notícias do Acre
Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo
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