12/08/2005 17:00:36
O aproveitamento da tecnologia agrícola para reforçar a quantidade de minerais e vitaminas nos alimentos foi o principal delineador das discussões durante reunião do Programa de Biofortificação de Produtos Agrícolas para Melhoria da Nutrição Humana. O evento, que aconteceu na Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), até sexta-feira, 12, reuniu pesquisadores de diversos países na tentativa de oferecer produtos agrícolas biofortificados, com maiores concentrações de vitamina A, no caso do milho, da mandioca e da batata doce, e ferro e outros micronutrientes, como o zinco, nas culturas do arroz, feijão e trigo.
Essas culturas compõem a dieta básica de populações que praticam a agricultura de subsistência nas regiões mais pobres do mundo, como África, Ásia, América Latina e Caribe. O programa, também conhecido como HarvestPlus, tenta suprir a dificuldade de suplementação de vitaminas e minerais em regiões sem infra-estrutura adequada para a distribuição de alimentos processados. O HarvestPlus supera essas limitações a partir do uso de tecnologias que têm como base a semente de produtos agrícolas melhorados. Sementes ricas em micronutrientes são o diferencial do programa.
O HarvestPlus, segundo documento produzido pelo consórcio internacional de parceiros colaboradores, enfoca a incorporação de alimentos ricos em micronutrientes nas propriedades familiares, com pouca intervenção ou investimento. Iniciativa do Grupo Consultivo sobre Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), entidade americana, e resultado de uma aliança mundial de instituições de pesquisa e entidades executoras – entre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – coordenadas pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), as ações do projeto são desenvolvidas em populações mais necessitadas através de um sistema alimentar integrado para reduzir a desnutrição.
O HarvestPlus atua a partir de sistemas locais de distribuição de sementes biofortificadas. Trabalhos de melhoramento são responsáveis pela maior quantidade de vitaminas e minerais, sendo que a aparência, o sabor e a textura continuam os mesmos dos alimentos tradicionais. O programa é estruturado em 10 anos, com estratégias definidas em períodos de três e dois anos. Além das seis culturas de primeira necessidade elencadas pelo programa, outros dez produtos serão biofortificados, entre eles o feijão caupi ou feijão de corda, o amendoim, a lentilha, o milheto, o feijão guandu, a batata, o sorgo e o inhame.
RESULTADOS NA CULTURA DO MILHO – Na Embrapa Milho e Sorgo, a reunião debateu especificamente a biofortificação do milho, projeto coordenado pelo Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT). Segundo o pesquisador Robert Eugene Schaffert, coordenador do projeto na Unidade da Embrapa, o objetivo da linha de pesquisa é aumentar a concentração de ferro, zinco e pró-vitamina A na cultura. Entre as avaliações realizadas durante a reunião do HarvestPlus no Brasil, Schaffert antecipa que o processo de seleção de linhagens de milho deverá ser realizado a partir do tamanho dos grãos, verificando, assim, a relação existente entre esse parâmetro e a quantidade de micronutrientes.
Outra diretriz é a possibilidade de utilização de um sistema mais eficiente para verificar a quantidade de ferro nos produtos agrícolas, tecnologia do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). “Trata-se de uma técnica em que clones de bactérias revelam as concentrações de ferro nos grãos de milho”, explica o pesquisador. Segundo ele, o objetivo é eleger os materiais com maior concentração do micronutriente e multiplicá-los. Essas linhagens já estão sendo cruzadas com variedades de milho com qualidade protéica melhorada (QPM), próprios para programas sociais de combate à fome.
“Essa é uma das possibilidades do HarvestPlus conhecida como fast track, ou via rápida, em que os resultados de pesquisa são levados a campo imediatamente”, explica Robert Schaffert. Genes biofortificados estão sendo incorporados ao BRS Assum Preto, variedade para o semi-árido do Nordeste brasileiro desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju-SE), Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculadas ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma das principais vantagens desse milho é a alta qualidade de proteína, 50% mais rica nos aminoácidos lisina e triptofano, que proporcionam uma alimentação equilibrada se utilizados em programas sociais.
Abaixo, veja as estratégias utilizadas na biofortificação do milho, segundo o HarvestPlus:
Milho biofortificado
Variedades de milho com altas concentrações de micronutrientes estão sendo selecionadas a partir de germoplasma já existente e desenvolvidas por melhoramento convencional. O projeto age, em um primeiro momento, nas variedades de milho que apresentam altos níveis de pró-vitamina A. Em uma segunda instância, o HarvestPlus desenvolve variedades biofortificadas com ferro e zinco. Brasil, Etiópia, Gana, Guatemala e Zâmbia são países escolhidos para a avaliação de germoplasma. Pesquisas estão sendo conduzidas no Brasil e nos Estados Unidos para o desenvolvimento de métodos capazes de verificar a concentração da pró-vitamina A e, se possível, sua biodisponibilidade. Outras informações sobre o programa: www.harvestplus.org, harvestplus@cgiar.org ou +1 (202) 862-5600 (Washington, DC). Na Embrapa Milho e Sorgo, dados sobre a biofortificação da cultura do milho podem ser obtidas pelo e-mail schaffer@cnpms.embrapa.br ou pelo telefone (31) 3779-1076.
Jornalista responsável: Guilherme Ferreira Viana
(MTb/MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
Área de Comunicação Empresarial (ACE)
Telefone / Fax: (31) 3779-1059
E-mail: gfviana@cnpms.embrapa.br