19/3/2007 16:43:50
Às vésperas da divulgação do próximo relatório global sobre as mudanças climáticas - previsto para ser anunciado para governos de todo o mundo em abril - pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) alertam para duas conseqüências diretas da emissão de gases de efeito estufa ainda em 2007 para a região Sudeste. "Teremos um período prolongado de seca este ano e o inverno já deve durar menos dias", diz Daniel Pereira Guimarães, pesquisador da área de Agrometeorologia. No início do mês de fevereiro o Ministério do Meio Ambiente anunciou dados desanimadores para o Brasil: acréscimo de 4º C, em média, na temperatura até o final deste século.
O primeiro relatório sobre o clima produzido por pesquisadores de diversas partes do mundo que integram o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), causou um furor ao revelar projeções catastróficas, como o aumento da temperatura do planeta entre 1,8º C e 4º C até o fim do século XXI. "A mudança no clima já está sendo percebida. Em 2007 devemos ter sérios problemas de seca em Minas Gerais, por exemplo. Teremos maior incidência de pragas nas lavouras, maior quantidade de queimadas, elevação da concentração de dióxido de carbono e, consequentemente, aumento do aquecimento global", explica o pesquisador.
Daniel Guimarães analisa que o cenário para os próximos meses já não é mais o mesmo em relação a anos anteriores. "Em janeiro registramos chuvas além dos índices normais. Em fevereiro choveu metade do que comumente registramos. E para março a previsão é de precipitações muito abaixo das normais em grande parte de Minas Gerais. Poderemos ter cerca de oito meses de seca este ano", antecipa. "Como as pastagens ainda estão verdes pela alta incidência de chuvas em janeiro, o número de queimadas será bem maior que em outros períodos se as projeções se concretizarem", alerta.
Cenário para Sete Lagoas preocupa
As queimadas, segundo o pesquisador Luiz Marcelo Aguiar Sans, da área de Solos da Embrapa Milho e Sorgo, contribuem de 3% a 5% com o aumento dos gases de efeito estufa. Na região onde a Unidade da Embrapa está localizada, no município mineiro de Sete Lagoas, região Central de Minas Gerais, o clima é o de savana. "Até 2050 teremos um clima muito semelhante ao da região Norte de Minas, o semi-árido", explica. As projeções ainda indicam aumento de 4,1º C na temperatura mínima registrada no inverno. "A temperatura mínima é um fator que regula as propriedades fisiológicas da planta. Com um acréscimo desses todo o desenvolvimento, a produção e a produtividade das plantas cultivadas poderão ser alterados", completa Sans.
O pesquisador ainda comenta sobre a disponibilidade de água para a população setelagoana. O município tem cerca de 215 mil habitantes segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como a previsão para os próximos anos é de precipitações abaixo das normais, Luiz Marcelo adianta que haverá falta de água no município. Segundo informações do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), cada habitante de Sete Lagoas-MG consome em média 140 litros de água por dia. "Com o aumento da necessidade por água de cada habitante, teríamos problemas já daqui a cinco anos. Se toda a água da chuva infiltrasse no lençol freático, conseguiríamos igualar essa receita com nosso gasto. No entanto, apenas 30% de toda essa água consegue chegar ao lençol, já que mais de 70% da cidade é impermeabilizada e grande parte dos recursos hídricos são desperdiçados", conclui.
Mais informações sobre as projeções climáticas para Minas Gerais podem ser obtidas na Embrapa Milho e Sorgo, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa): (31) 3779-1123 ou gfviana@cnpms.embrapa.br .
Guilherme Ferreira Viana (MTb/MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
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