29/11/2007 08:10:55
Nos próximos anos, o Brasil pode sofrer um apagão da logística ou uma
crise de abundância: é o que visiona a assessora e engenheira econômica da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Denise Deckers, durante o IX
Seminário Nacional de Milho Safrinha, que acontece em Dourados-MS.
Os dados apresentados pela especialista evidenciam esta possibilidade. O
cadastro da Conab registra a produção de 123,3 milhões de toneladas de
grãos, distribuídas em 16.557 unidades, em que 78% estão em armazéns
graneleiros e os demais em convencionais. Entretanto, a estimativa de
safra 2007/2008 da Companhia marca 135,5 milhões de toneladas, apontando
uma defasagem de 9%. Além disso, os números demonstram uma incoerência
quanto à localização das unidades, “que não acompanharam a evolução da
fronteira agrícola”, lamenta. “Apesar do volume produzido no campo
impulsionar a economia nacional, ele pode levar o país a um
estrangulamento de armazenagem e escoamento”, alerta Denise Deckers.
Os principais centros de armazenagem estão localizados nas regiões Sul,
Centro-Oeste e Sudeste, concentrando 92% da capacidade total cadastrada,
com déficit de armazéns na casa de 13% para a região Sul e 5,5%,
Centro-Oeste. O saldo positivo do Sudeste, 25,1%, não deve ser considerado
um caso de sucesso, já que no estado de São Paulo, por exemplo, as
condições de armazenagem são precárias e convencionais.
Outro fator que colabora com este cenário é a localização das unidades,
ainda concentradas na zona urbana, com 47%, mas com fortes migrações para
a rural devido às legislações ambientais. Desta forma, por meio de
programas do Governo Federal os produtores são incentivados, com linhas
de financiamento, a construírem armazéns em suas propriedades. Para o
agricultor, de acordo com Denise, só há vantagens, como possibilidade de
espera pela melhor época para comercialização, diminuição do impacto dos
custos de frete e redução da concorrência existente na zona urbana. Para o
país, a fixação do homem no campo é solidificada.
Sistema de Certificação – buscando amenizar esses fatores, foi aprovada e
instituída a Lei no 9.973/2000, na qual, a partir de janeiro de 2009, será
implantado o Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras,
coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que
terá como objetivo fortalecer a relação do setor armazenador com o
produtivo e a sociedade, aumentando o profissionalismo e reduzindo perdas,
“ou seja, não poderá haver mais armazém sem acompanhamento, registro e
certificação. Será um programa de qualificação”, explica.
Transporte – porém, as possíveis mudanças previstas pelo sistema de
certificação podem não surtir efeito, caso o Brasil não altere sua matriz
de transporte de grãos, predominantemente rodoviária (97%), modelo
aconselhado, segundo técnicos, para distâncias inferiores a 500 km. No
país, a distância média do porto varia entre 1.000 e 1.500 km e somente 2%
da produção nacional é escoada em hidrovias.
“O frete hidroviário é 58% mais barato que o rodoviário. Esse, além de
oneroso, causa o esgotamento das malhas, já com problemas em 73,9% delas,
com riscos altíssimos de perdas de safra e prejuízos para os
caminhoneiros, expostos a condições subumanas de trabalho”. Para minimizar
esta perspectiva é preciso “utilizar corredores estratégicos e
multimodais. Não é uma teoria nova, mas infelizmente ainda não foi
colocada em prática”, reforça a engenheira.
As sugestões para interromper esta tendência de apagão logístico,
fornecidas por Denise, são: ampliação da capacidade estática em 20% acima
da produção, no mínimo; flexibilização dos recursos do Programa de
Incentivo à Irrigação e à Armazenagem; incentivo na competitividade
internacional e inter-regional; barateamento dos custos de transporte,
passando, fundamentalmente, pela alteração da matriz; utilização de
hidrovias e ferrovias, maximizando a multimodalidade; melhor planejamento
do transporte e maior integração entre as instituições governamentais e
entidades de classes.
Seminário - O IX Seminário Nacional de Milho Safrinha é uma promoção da
Associação Brasileira de Milho e Sorgo (ABMS), com realização da Embrapa
Agropecuária Oeste, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
– Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento e tem a parceria da Universidade Federal da Grande Dourados
(UFGD), Associação de Engenheiros Agrônomos da Grande Dourados (AEAGRAN),
Grupo Plantio na Palha (GPP), Sindicato Rural da cidade e Embrapa Milho e
Sorgo, com apoio de diversas empresas de sementes e outras instituições.
Mais informações: (67) 3425-5122 e www.cpao.embrapa.br/milhosafrinha .
Dalízia Aguiar (DRT/MS 28/03/14)
Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados-MS)
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Jornalista da Embrapa Agropecuária Oeste - Dourados-MS
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Guilherme Viana
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo – Sete Lagoas-MG
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