4/9/2008 09:58:20
Um tema ainda bastante polêmico, apesar de as primeiras cultivares
transgênicas terem sido plantadas há 12 anos. Hoje, 12 milhões de
agricultores em 23 países – sendo que 90% são de baixa renda – cultivam
transgênicos em 114 milhões de hectares em todo o mundo. Os dados são da
safra 2006/2007 e revelam um mercado global estimado em US$ 7,5 bilhões,
onde a área ocupada cresce a uma média de 10% ao ano. “Nunca, na história
da agricultura, uma tecnologia foi adotada de forma tão rápida e
constante”, analisa Edilson Paiva, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo
(Sete Lagoas-MG) e vice-presidente da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança).
Os Estados Unidos lideram o plantio de transgênicos, com 60 milhões de
hectares, país seguido pela Argentina, com 19 milhões de hectares. O
Brasil ocupa a terceira posição, com pouco mais de 15 milhões de hectares
ocupados com a soja RR (Roundup Ready), tolerante a herbicidas, e com o
algodão Bollgard (com tecnologia Bt). O milho é a cultura transgênica que
mais avança nos últimos anos, ocupando hoje 35 milhões de hectares em todo
o mundo, sendo que 24% das cultivares plantadas possuem genes que conferem
resistência a insetos ou a herbicidas. “Apesar de todo o conhecimento já
existente, os transgênicos são rotulados como vilões por grupos sem
informação”, diz Paiva.
E esta rotulagem, continua o pesquisador, é um obstáculo para a geração de
alimentos e de energia. “Temos um agronegócio estruturado e podemos nos
beneficiar desse conhecimento. Os conflitos de competências já resultaram
em um enorme atraso tecnológico e temos que correr atrás desse prejuízo”,
explica Edilson, se referindo à necessidade de que profissionais com
isenção ideológica e experiência técnica e científica na área
biotecnológica atuem nas discussões sobre a liberação de transgênicos.
“Não vejo competitividade no agronegócio brasileiro em cenários futuros se
essas tecnologias não forem adotadas”, antecipa.
‘Sou a favor da ciência’, diz Paterniani
O pesquisador da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
da Universidade de São Paulo) Ernesto Paterniani, referência em
melhoramento genético de milho no Brasil, reforça que as restrições
impostas à CTNBio no período de 1998 a 2004 provocaram enormes prejuízos à
agricultura brasileira. “A transgenia é uma conseqüência da evolução do
melhoramento genético na agricultura, assim como os milhos híbridos foram
no século passado. Sou a favor da ciência e da liberdade para que o
produtor tenha poder de decisão para usar ou não a tecnologia”, defende.
No processo de transgenia, as plantas selecionadas após o processo de
transferência de genes manifestam especificamente a característica
desejada. Desta forma, têm-se cultivares resistentes a herbicidas e/ou a
insetos. No caso do milho Bt, por exemplo, apenas um gene extraído da
bactéria Bacillus thuringiensis é responsável por conferir à planta
resistência às lagartas que, ao se alimentarem das folhas, são intoxicadas
e mortas. Estudos científicos desenvolvidos pela FAO (Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) mostram, segundo
Paterniani, que a proteína gerada a partir do gene é específica para
combater somente aquela praga, sendo inócua para seres humanos, animais de
sangue quente, peixes, pássaros e até mesmo para outros insetos. “Além da
redução no uso de agroquímicos, o ganho econômico é evidente”, conclui
Paterniani.
Edilson Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo, explica que após a aprovação da
Lei de Biossegurança em 2005 oito produtos foram autorizados pela CTNBio
para comercialização: soja RR e algodão Bollgard, da Monsanto, milho e
algodão Liberty Link da Bayer (resistentes a herbicidas), dois eventos de
milho Bt (MON 810 da Monsanto e Bt11 da Syngenta) e duas vacinas contra a
circovirose suína, principal doença infecciosa da produção de suínos.
“Todas as liberações foram concedidas a empresas da iniciativa privada,
multinacionais. É urgente a definição de uma política pelo governo
brasileiro sobre o tema e o investimento nas instituições públicas para
que elas participem deste contexto”, antecipa Paiva.
NANOTECNOLOGIA – A mesma crítica contra as posições antagônicas sobre os
transgênicos e outras tecnologias foi feita pelo pesquisador Richard
Domingues Dulley, do IEA (Instituto de Economia Agrícola). “Esses
movimentos polarizados e radicais ignoram ou não dão importância à
biotecnologia. Aquém dos possíveis problemas que podem ser causados pela
atividade na agricultura estão os danos causados pelo uso indiscriminado
dos agrotóxicos”, pondera Dulley. A aplicabilidade da nanotecnologia na
agricultura, por exemplo, deverá percorrer longos caminhos até estar
disponível no campo. Possibilidades, segundo o pesquisador, será a
utilização de nanosensores inseridos em plantas ou animais que indicarão,
em tempo real, as reais condições, como o ataque de doenças e estresses,
como o hídrico.
Os temas foram debatidos durante o XXVII Congresso Nacional de Milho e
Sorgo, realizado pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), a Embrapa
Milho e Sorgo e a Embrapa Transferência de Tecnologia, Unidades da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A promoção é da ABMS
(Associação Brasileira de Milho e Sorgo). Em assembléia realizada nesta
quarta-feira, definiu-se o local do próximo Congresso Nacional de Milho e
Sorgo: Goiânia-GO, em 2010.
SERVIÇO:
Evento: XXVII Congresso Nacional de Milho e Sorgo
Local: Centro de Exposições e Eventos (Londrina-PR)
Data: de domingo (31/08) a quinta-feira (04/09)
Sala de Imprensa: (43) 3334-3086 / 3325-0594
Jornalistas: Emilia Miyazaki (43 8824-5953), Andréa Monclar (43 9101-1080)
e Guilherme Viana (31 9212-2063)
Texto: Guilherme Viana (MTb/MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG): www.cnpms.embrapa.br
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