10/9/2009 13:56:04
O pesquisador aposentado da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Elto Eugênio Gomes e Gama foi homenageado durante evento técnico-científico ocorrido no mês de agosto em Guarapari-ES. Natural daquele estado, ele recebeu a homenagem juntamente com outros pesquisadores capixabas e com o professor Ernesto Paterniani, este in memorian. Foi durante o 5º Congresso Brasileiro de Melhoramento de Plantas. A instituição que prestou a homenagem foi a SBMP (Sociedade Brasileira de Melhoramento de Plantas).
Aposentado desde 2007, Elto deixou, entre os colegas da Embrapa Milho e Sorgo, muita saudade e várias boas lembranças. E é entre os pesquisadores da área de melhoramento genético de milho que isso se mostra mais presente. Para Sidney Netto Parentoni, dois pontos da personalidade de Elto, com quem conviveu por 20 anos, chamam a atenção: sua capacidade de dividir/compartilhar tanto materiais genéticos como informações destes e o bom humor, aliado à serenidade.
“O Elto, desde o início de sua carreira, parece ter tomado a decisão de que sua missão seria preparar o caminho para outros seguirem, ou seja, não se preocupava em marcar ele mesmo os gols, mas sim em deixar todos cara a cara com o goleiro”, comenta. Sobre o bom humor e a serenidade, Sidney conta que Elto “sempre tinha a palavra de ânimo para o momento certo e sempre tentava ver o lado bom das situações”.
Outro melhorista, Lauro José Moreira Guimarães, lembra do apoio que recebeu quando chegou à empresa. “O Elto me deu muito incentivo quando cheguei à Embrapa e passou dicas importantes quanto à condução dos trabalhos de campo. Além de ser um melhorista muito respeitado por todos os colegas, sempre me chamou a atenção o fato de ele tratar todas as pessoas com o mesmo respeito e atenção, independente de que setor ou hierarquia fossem dentro da empresa”.
Outra premiação - Elto já havia sido premiado internamente na Embrapa. Em 2002, a empresa o reconheceu como destaque individual por excelência. Quem explica é o também melhorista Paulo Evaristo Guimarães: “ele participou ativamente da massiva introdução, avaliação e melhoramento de populações de milho, bem como do desenvolvimento de metodologias e da geração de conhecimento científico que resultaram no desenvolvimento de híbridos e variedades de milho com maior potencial de produção, características inovadoras e melhor adaptação às diversas regiões e épocas de plantio”.
Em termos de produção técnica, Elto participou como autor ou colaborador do desenvolvimento e do lançamento de 34 variedades e 18 híbridos de milho comum, três variedades e três híbridos de milho doce e três variedades e um híbrido de milho de alta qualidade protéica. Ao todo, portanto, 62 cultivares de milho da Embrapa tiveram a contribuição do pesquisador. Além disso, ele publicou 110 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais como autor e co-autor. Um destes artigos, chamado Relation between inbred and hybrid traits in maize, é citado no conceituado livro Introduction to quantitative genetics. Sidney considera que, com o prêmio concedido pela SBMP, “a história se incumbiu de lhe dar o devido crédito pelo excelente trabalho”.
Elto resume da seguinte forma sua contribuição à Embrapa: “o tempo que estive trabalhando na empresa, em especial na Embrapa Milho e Sorgo, foi para mim uma experiência de vida maravilhosa. Agradeço muito à Embrapa e aos colegas; incluo aqui todos, desde do campo ao administrativo, pelo apoio e pela paciência que tiveram comigo durante o nosso dia-a-dia e nos nossos trabalhos de pesquisa que realizamos de forma multi e interdisciplinar”.
Exemplo de vida e causo - Do ponto de vista mais pessoal, Elto tem uma relação bastante estreita com a família. Segundo o pesquisador Walter Fernandes Meirelles, ele costumava convidar os colegas de trabalho para jantares em casa. “Nestas ocasiões, percebia-se o quanto ele tinha preocupação com a família. Ele sempre procurava nos lembrar que nossa família vem em primeiro plano, aconteça o que acontecer, e nos dava exemplos de sua própria vida na busca da divisão do tempo entre trabalho e vida pessoal, no apego com os filhos e esposa, para não esquecermos que após um dia cansativo de trabalho tinha alguém ansiosamente nos esperando em casa. Estas lições de vida, que só se aprende com a experiência, ele fazia questão de colocar, com seu jeito simples e educado. Estas conversas vou guardar para sempre!!!”, conta.
Quem relata um “causo” vivido por Elto é Sidney. “Há mais de 20 anos, Elto e o colega Luiz André Corrêa estavam num daqueles aviões Bandeirante velhos num vôo de Belo Horizonte para Manaus. O avião teve um problema no trem de aterrissagem e precisou fazer um pouso forçado de barriga em Manaus. Minutos antes do pouso, a tripulação apavorada pediu que todos assumissem a posição de impacto e que retirassem objetos cortantes dos bolsos. O Luiz André estava transtornado. Ele virou para o Elto segundos antes do pouso e disse: ‘Elto, você não vai tirar esta porcaria de óculos do rosto?’ O Elto virou pra ele tranquilamente e respondeu: ‘Calma, Luiz, se eu morrer preciso ver para onde estou indo! Eu não enxergo nada sem meus óculos!!!’ ”.
E finaliza: “parafraseando o Obama, para mim o Elto era o cara! Foi realmente um privilégio conviver com ele todo este tempo e espero que nós que ficamos possamos transmitir aos novos colegas do melhoramento um pouco do espírito de equipe que ele nos passou”.
Clenio Araujo (MG 06.279 JP)
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
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