24/9/2009 16:22:36
No terceiro dia do XVI CBA (Congresso Brasileiro de Agrometeorologia), as discussões giraram em torno de mudanças climáticas e de seus efeitos na agricultura, tanto mundial como brasileira. O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP) Eduardo Assad falou sobre a nova geografia que está se formando no país por causa das recentes mudanças pelas quais o clima tem passado. Ele mostrou dados de diferentes culturas agrícolas e alertou que é necessário estudá-los melhor, já que se referem ao que pode acontecer em pouco tempo.
Assad rebateu o que vem sendo divulgado em relação ao café. De acordo com o pesquisador, a cultura não vai deixar de existir no Sul de Minas Gerais e na região Mogiana de São Paulo. O que é certo, segundo ele, é que, mantidas as atuais cultivares disponíveis no mercado, há uma tendência de deslocamento da cultura mais para o Sul do país. Para contornar esta situação, é preciso que se trabalhe questões relacionadas ao manejo da cultura. E novas espécies de café podem ser testadas em outras regiões: "o café robusta é uma boa opção para os estados de Minas Gerais e São Paulo", afirma.
Sobre o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, que vem provocando polêmica recentemente, Assad disse que também é necessária mais discussão. Segundo dados mostrados pelo pesquisador, é possível expandir o cultivo da cana no país sem avançar sobre biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica. Com mais área plantada, poderia se produzir cerca de 240 milhões de litros de etanol, o que atenderia a 20% da demanda mundial. Entre as soluções que amenizariam os danos causados pelas mudanças climáticas na agricultura, o pesquisador citou o plantio direto, "desde que bem feito", e a integração lavoura-pecuária. E arrematou que a agricultura não é a vilã da história: ao contrário, "é a única atividade que pode, em um curto espaço de tempo, virar o jogo".
M. V. K. Sivakumar, da Divisão de Meteorologia Agrícola da OMM (Organização Meteorológica Mundial), também mostrou dados relativos às recentes mudanças pelas quais o mundo passou. Em relação ao aquecimento da Terra e dos oceanos, 11 dos 12 anos compreendidos no período de 1995 a 2006 foram classificados entre os 12 mais quentes desde 1850. Já a tendência linear de aquecimento nos últimos 50 anos, que é de 0,13°C por década, é cerca do dobro da tendência dos últimos 100 anos.
Alterações nos padrões de precipitação têm proporcionado importantes mudanças em relação a secas. De acordo com o representante da OMM, secas mais intensas e longas têm sido observadas em grandes áreas desde os anos 1970, particularmente nos trópicos e nos subtrópicos. Alterações na temperatura da superfície do mar e reduções das camadas e da cobertura de gelo estão ligadas à ocorrência de secas. "O aquecimento é inequívoco", resume Sivakumar, lembrando dos aumentos na temperatura atmosférica e nos níveis do mar e do gelo no Hemisfério Norte.
Para o futuro, algumas projeções podem ser feitas. Entre elas, a de que a temperatura média da superfície da Terra pode aumentar entre 1,8°C e 4°C no período de 2090-2099 em relação a 1980-1999. Na mesma comparação entre épocas, o nível médio do mar global está projetado para aumentar de 18cm a 59cm. Eventos de extremo calor, ondas de calor e precipitação intensa devem se tornar mais frequentes, assim como os ciclones tropicais (tufões e furacões) devem ser mais intensos e com maiores velocidades do vento. Segundo Sivakumar, "o desafio é se conseguir um manejo sustentável de um planeta em constante mudança".
As discussões do XVI CBA vão até sexta, 25 de setembro. Entre os temas previstos, está uma mesa redonda que discutirá modelagem, sensoriamento remoto e uso de imagens de satélites para monitorar e mapear áreas agrícolas. O evento é uma organização conjunta da SBA (Sociedade Brasileira de Agrometeorologia), da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e da Embrapa Milho e Sorgo (que fica em Sete Lagoas-MG). Mais informações no www.sbagro.org.br/cba.
Clenio Araujo (MG 06.279 JP)
Jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
Tels: (31) 3027-1272 / (31) 9974-3282
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