Garantir uma atividade econômica rentável aos produtores da zona rural de Frei Gaspar, no Vale do Mucuri, Minas Gerais. Esse pode ser o resultado da parceria entre a comunidade local e o projeto "Desenvolvimento e Cidadania", custeado pela Petrobras e coordenado pelo agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG).

Em busca de uma alternativa de renda, há cerca de seis meses, os produtores da região têm apostado na criação de peixes. Ao visitar as propriedades, Luciano constatou que os tanques foram feitos nas áreas de várzea, o que coloca a atividade em risco. "Com as chuvas, a enchente passa nos poços e leva os peixes", explica o agrônomo.

O produtor Hermínio Batista Soares conta como começou a experiência: "a gente estava fazendo no escuro, na empolgação. Estamos interessados que esses peixes deem uma renda porque aqui não tem riquezas. Precisamos de um técnico para dar treinamento e orientação, senão a gente faz errado e acaba desistindo. Temos que começar a comercializar para a gente se manter aqui ou acaba indo embora da região".

E esse técnico foi Luciano Cordoval, que orientou os produtores a construírem os tanques não mais nas baixadas e sim acima dos barrancos. No projeto "Desenvolvimento e Cidadania", o agrônomo faz a difusão de duas tecnologias sociais: barraginhas e lagos de múltiplo uso. O curioso é que ele foi até Frei Gaspar por causa do interesse de moradores pelas barraginhas e acabou descobrindo a importância da implantação de lagos de múltiplo uso na comunidade.

Foi a produtora rural Andréa Miranda quem divulgou as barraginhas na localidade. A tecnologia, usada para captar enxurrada, evitar erosões e reabastecer o lençol d'água, foi tema da monografia de Andréa ao final do curso de Gestão Ambiental. Ela procurou Luciano Cordoval na Embrapa Milho e Sorgo para pegar informações, materiais explicativos e fez uma palestra sobre barraginhas para os moradores da comunidade Córrego Paraguai, em Frei Gaspar.

No dia 17 de outubro, Luciano foi até a localidade para oferecer um treinamento. Ao conhecer a realidade local, com muitos produtores investindo em criatórios de peixes nas várzeas, onde aflora água facilmente na região, ele percebeu a importância de fazer a capacitação sobre lagos de múltiplo uso, que são tanques lonados e podem ser utilizados para atividades diversas.

"Chegamos lá no momento certo, pouco antes da enchente", conta o agrônomo. Cerca de 70 produtores participaram do treinamento na comunidade. Foi construído um lago num terreno mais alto na propriedade do senhor Hermínio Soares. Os moradores puderam aprender a fazer o tanque vendo e participando do trabalho.

Luciano percebeu que estavam sendo criados peixes diferentes, de diversos portes juntos e orientou que os maiores fossem transferidos para o novo lago, para terem tratamento diferenciado. "Colocam os grandes separados para dar acabamento antes da comercialização", explicou. E sugeriu que fossem feitos mais tanques, também acima da baixada, para colocar os outros peixes na época de enchente. "Se não for assim, no primeiro ano com as chuvas, os peixes já são levados e todo o trabalho é frustrado", afirmou. Para abastecer os poços mais altos, basta bombear água do brejo no período da cheia.

Durante a capacitação, foi feito o lago demonstrativo com 14 metros de diâmetro e capacidade para 80 mil litros. Serão construídos mais seis tanques do mesmo porte em Frei Gaspar até fevereiro do próximo ano, por meio da parceria firmada entre a comunidade local e o projeto "Desenvolvimento e Cidadania". Luciano Cordoval comemora as ações: "o Vale do Mucuri era uma região do semiárido em que a gente ainda não havia atuado. Agora temos essa parceria."

Texto: Marina Torres (MG 08577 JP)
Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) www.cnpms.embrapa.br
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